"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meu corpo luta contra o teu
sabe-se mais frágil
perdido em teu mar de músculos retesados

estratégicamente te engulo
frêmito que leva a termo
a contenda

à sombra da guerra
jazem em silêncio
dois vencedores

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

às visitas silenciosas

Orelha-de-pau , que nada ouve. Por Eli, Rio Preto da Eva, Amazonas.

Tu sabes quando surto
me vê sorrir
me assiste sangrar
e querer partir...

Nesse espaço
o quê busca?
um abraço, um laço
um pedaço de vida emocionada?

Nada!
sem pena
volta apenas para ver
o s  r e s t o s  d a  m u l h e r - b o m b a
                                                                 
                                                           e                                      i
                                                          x                c                 m
                                                           p                    h               p
                                                             l                  o                   l
                                                           o                v                        o
                                                            d                 e                      d
                                                              i                 n                          i
                                                            n                  d                         n
                                                          d                    o                         d  
                                                          o                                             o
                                                                             
                                                                              /
                                                                              s
                                                                              e

em poema


domingo, 19 de dezembro de 2010

pintando o futuro

Pinto a casa como quem pinta a cara
                                   para sair
                                          ou para matar:
                                                            - ou com cor sufoco a que chora
                                                        ou caio fora.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Despedida

E enquanto descem
eles pensam
"esse encontro 
talvez merecesse
um talvez
como promessa..."

era então a hora decisiva
bateu a porta do carro e arrancou
não houve tchau, adeus, nada
antes o silêncio tomou as bocas
engasgadas no último gole de saliva.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Corrosão autopiedosa


No fundo da cama,
Deposito o corpo
Cabelos novos
E alma alguma.

Espero as horas.
Não há plano
sob a miragem.

O juiz não se pronunciou.
Não houve convocação.
O carro não foi vendido.
Nenhuma decisão tomada sobre o Natal.

Através do pano
pelo qual revisto a vida
é toda a cor roída
feito fenda na trama.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

mais um de Alice


Joana era só cama,
Luzia cantava e lia,
Rosário me fez de otário,
E Daniela pensava mais nela.
Lorena me amou por pena,
Thaís me fez bem feliz,
Natália era apenas falha,
E Judite, só um palpite.
Roberta era morte certa
Luísa não me precisa
Simone errava meu nome
E com Aline, rendi um cine.
Miranda era muito branda
Carina preferiu Marina
e Andressa...
essa ainda me assombra!

Memória de agenda velha,
e o espírito nem cora...
mal me lembro dessa Adélia
essa Solange, essa Dora...
Ainda bem que se esquece!
E hoje somente Alice
me apetece.

sábado, 20 de novembro de 2010

terror amoroso

uma mulher de burca
- você e seu silêncio -
me ignora
e nega a fúria de lábios e mãos
que explodiu
o mercado de sonhos
ferindo-me duplamente

creme, açúcar
e desprezo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

história de uma viagem

que dor é essa
que se esconde sob a pele
disfarça-se de sorriso
e sorrateira
derruba-me 
certeira
com somente uma pancada?

quem sou nestas horas
de riso angustiado -
gargalhada envelope
cobrindo carta anônima e muda?

não me reconheço na manhã mais linda
na hora infinda
de novos poemas
não me reconheço nas palavras de amigos
nos livros antigos
nas coisas pequenas

chove
sob a ensolarada e decidida
que decide pela vida.
subcutânea,
sobrevive a furiosa
louca que grita o desespero
órbitas vermelhas
gutural expressão do horror


 - depois do embate das gêmeas
reparo os pedaços da fêmea
sob olhar inclemente de culpa -


portar no mundo um teto-corpo
abalado pela convivência passional
de vida e morte...

seria sorte?


.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Agradeço

A quem generosamente incluiu um poema meu no quadro de entrada da Feira Literária do SESC RR.

Com leitores assim, a escrita se torna um exercício de musculação do ego...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Anversos

meus trezentos eus
vivos dispersos
imersos em si
soltos à espera
de nova rodada
da esfera habitada
...
despalavro-me
despetalada

domingo, 31 de outubro de 2010

Re-passando

Sentou-se pacientemente.
Devagar, sem pressa, passou e repassou o mesmo filme.
Também o tempo passava, impassível:
Passaram por ele a sombra do sol, um dia inteiro e uma noite mais, enquanto diante de si via repetida a história, cena a cena.
Passaram lágrimas por suas faces
e sorrisos por suas memórias.

O relógio da sala
barulhento e insistente
reforçava a ideia de que apenas uma certeza
não passaria:
reviveria tudo
como num filme
de novo
de novo
de novo
de novo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

o que se perde

ficou sem comparsa
meio que sem querer
ele desistiu do crime

dispersa
ansiosa e com medo
calou-se em degredo
o sol quedando-se quieto sobre a pele nua
e um mar salgado correndo pelas faces rubras:

reinventar-se por completo
tornou-se o desafio mais urgente

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sobrevida

esse rio amazonas contido no peito
silêncio amadurecido,
palavra fedendo a guardado

sangro toda
em conta-letras
quando ouço irromper esse suspiro
e a distância eterna anunciada
no ar que nos falta

domingo, 26 de setembro de 2010

Domingo

arrasta a sandália até a feira
volta sacolas, sacolas, calor.
roupa na máquina
roupa pro varal
depois passar roupa, passar calor
prepara peixe
serve no vapor
vapor da face
calor
calor
lava o lavabo
seca a garganta
cala-se em calor, calor, calor.
inventa sucos
e sobremesas
recebe os pares
debate a sorte
cola frases
ignora cansaços
o dia cai
e ainda
há que se fazer provas
há que se corrigir coisas
é noite
mosquitos zunem a vida que não atrasa
quando tudo já parece morno
ferve nela
a segunda-feira.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Contrariado


Quando sonhou desgosto
Agosto era
Nem percebeu que o medo era o gosto que lhe ardia.

Depois,
descompostura no seio
da aurora:
Amanheceu silêncios e esporas

Agora verte-se
E o corpo trêmulo
por frio e fúria
flutua.

Secos olhos
E dores inaudíveis

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Desencontros

quando a bela
adormecida
no banco de trás
teve que descer
esqueceu o sapatinho.

voltei pra devolver
mas ninguém havia
além de cães falastrões
e um vento forte.

desolado deixei
seu par de sapatos
na caixa de correspondência.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

De Rebeca, Clarisse e Helena

Dezenove vezes
trezentos e sessenta e cinco.

Vidas trançadas
e o susto:
tango-tragédia,
trabalho triplo.

Torceram-se os dias
em tripla traquinagem,
tripla travessura.

Dezenove vezes
trezentos e sessenta e cinco:
agora me estripa
a falta que o trio me faz.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eras

Foi vento na cara
passeio de bicicleta
espuma e banheira
cheiro de café
tarde de chuva na sexta
cesta cheinha de doce
acordar de pesadelo
gato caçando novelo.

Foi flor roubada à noitinha
fim feliz de campeonato
sonzinho de passarinho
surpresa, sorte, e por dentro
turbilhão de coisa nova.

Era um cavalo marinho
e amanheceu ao meu lado.
lentamente
lavro todo um livro

lanhada e lúcida
a louca
lança-se livre

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Faceira

Eu tenho trezentas faces:
face ao mundo
faço que sou,
faço que não sou,
disfarço bem.

Quando me refaço
fotografo
pra mostrar depois.

(o inferno é não crer em nada
e não saber o que vai embaixo
de toda essa carcaça transformada!)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dor e distância

É dolorido o degredo
de quem mais quero comigo:
Falta-me o melhor leitor,
minha inspiração primeira
paixão que me acende a vida
o melhor amigo,
o maior amigo...

Centro de mim,
quase meu umbigo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

outros cenários

Beijo morno.
Unido e úmido,
meu corpo lateja
em amazônico desejo.
(...)
Suaves
feito aves,
voam
no céu da boca
as palavras
que não dizes
no ouvido
dessa louca.
(...)
Lampejo de idéia morta:
só saudade que bate à porta.

domingo, 1 de agosto de 2010

Emflorcrescendo

Vejo-a.
 - Nem sabia ser menina!

Erva daninha
transformada
em centro de jardim
e, um dia,
fez-se flor
de mim.

Boa história de amor
é vida transformada a cada dia...

E é também poderosa analgesia 
na mirada pelo retrovisor.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

poço de memória

Hoje ouvi e músicas que me levaram de volta aos idos dos 80. De todas elas, resolvi compartilhar algo que foi gravado pelos Inocentes. Segundo me lembro do que estava escrito no encarte do LP (isso mesmo, LP!), Clemente inspirara-se em Augusto dos Anjos para compor a letra:

Eu


Nas calçadas pisadas de minh'alma
passadas de loucos
estalam
crânios de frases ásperas

onde forcas esganam cidades
em nós de nuvens coagulam
pescoços de torres oblíquas


soluçando eu avanço
por vias que se encruzilham
à vista de crucifixos
polícias,
polícios,
vícios, vícios
fixam, ilham

eu.

sábado, 24 de julho de 2010

três pretinhos


Um pretinho que me veste: pele sobre pele.
Um pretinho me aguça e agita: seiva quente.
junto aos dois recordo outro

                                                                                           agora longe...

                                                                                       Meu desgoverno:
                                                                                         IN (V/F) ERNO?

                                  Um tubinho e um café,

                           me lembram doutro pretinho
                                           que esperei
                                        mas deu no pé.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

força zero

chega
desse sorriso desmentindo o medo


agora é a fúria incontida
memória corrompida,
vírus letal
lágrima amarga.

escorrendo calada
a lava caminha
corroendo a vida

quarta-feira, 14 de julho de 2010

responde essa!

Fuçando nos desenhos disponíveis para o blog, encontrei essa imagem de fundo... o que vc achou da mudança no site? responda, é muito importante saber...

um pouco do que me fortalece

Um pouco de poesia antiga: os Salmos Bíblicos. E não me importa a que deus ou anti-deus você adora ou desadora. Outro dia, assistindo a "O livro de Eli", vi um personagem dizer: "esse livro leva esperança ao coração dos fracos". Que seja.Impossível é não ver sua beleza.

Deus me livrará de perigos
ocultos
e doenças mortais.
Me cobrirá com suas asas.
Sua fidelidade será meu escudo.
Não temerei assaltos nem pestes,
seus anjos me pretegerão
e as pedras dos caminhos
não farão mal aos meus pés.
Deus me guardará e atenderá
ao meu chamado
é Ele quem me faz ser respeitado
demonstrando em sua glória
que é Ele mesmo
quem me salva.

Poesia contida no salmo 91.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

esperei
nem muito nem pouco, diria
 - que espera se pode medir
quando espera é decisão de não ir
antes que o cansaço arda mais que a ausência?

você não veio
não o vi vestido de rimas
e as palavras meninas
não tiveram com quem brincar.

sábado, 3 de julho de 2010

Por ocasião desses 37 anos...

Botar minha vida em verso
Não é opção ou sina:
Foi como aprendi viver
Desde que era bem menina.


Assim é que eu me movo
Do centro à periferia.
Se no centro há sofrimento
Tristeza, melancolia,
Corro pra margem e escrevo.
E essa minha autoria
É que já me fortalece
Pra praticar a mania
De sempre voltar ao centro -
Seja noite ou seja dia.


Quando no centro, transpiro:
Toco o amor, vivo, deliro
Fico louca, sangro, morro.
Mas a quem pedir socorro
Se sou eu que me atiro?
Por isso volto pra margem
Lambo as feridas, repenso
E a escrever, me miro
como fora um personagem.
Penso: tudo isso é miragem
Dor, feridas, sofrimento!
E assim calo o lamento das dores de tal coragem.


Me disseram que escrever
É reviver a ferida
Mas sei que há quem já nem entre
Nas arenas dessa vida,
Quem viva morno, dopado
Pensando estar no limite...
Pode até ser para eles
Não me peça que os imite!


O meu modo é esse outro
Acompanho-me de um jeito
Que sou duas,
a que vive
E a que escreve a respeito.
Desse jeito me controlo
De um modo assaz perfeito:
Na poesia consolo
As dores que ardem no peito.
Rio delas, desse rio
de dores que a vida traz.
Quando em palavras desfio
as dores, já fui capaz
de vencê-las com meu guiso.
De sorrir da agonia,
e esboçar esse riso
em forma de poesia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

desvario diário

Ingredientes vários
homogeneamente diluídos
em úmidas e frias
cavidades virtuais:
Escancaramos ousadias e medos
invariáveis desvarios
ataques de consciência.

Buscar o cavalo
a galope aberto
pisoteando
campos incertos.

Não há mal em nosso mal...
é mel e sal nossa saliva
e a palavra
nossa diária lavra
é só o sangue a soluçar
na carne viva.

sábado, 19 de junho de 2010

carta pra tu

A saudade é flor de espinho,
harmonia em desalinho,
e desejo de mais viver.

Também sinto
- sempre sinto -
da boca em boca,
mão em mão,
suavidade de pele,
carinho que me revele,
do que foi
e não foi feito.

- da quenturinha no peito
e um sentido de conforto...

saudade, amor,
só não sente
quem é morto...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Poetas


Poetas não dizem verdades
Nem mentiras
Jogam com as palavras
Suas frustrações e iras.

Poetas dizem o universo.
Por vezes se escondem nos versos.
Por vezes se dizem perversos.
Por vezes se perdem, dispersos...

Poetas são tolos que pensam
Que criam o mundo com as mãos.

Tal como o calor aos ventos
Criam e acirram sentimentos
Que vão da alegria à mágoa.
Calam cores e sabores
Se temperam de amores
E fazem de suas dores
Calmaria em copo d’água.

E quando se desconhecem
Cometem loucos deslizes
Acreditam no que escrevem
Se fazem tão infelizes.

Unir versos de poetas...
Pura manipulação:
Fazer da vida concreta
Poema, contradição.

sábado, 12 de junho de 2010

poesia

tanto tema
remetendo
ao universo

tanta ideia
arremetendo
em verso

tanto eu
vertendo
disperso

sexta-feira, 4 de junho de 2010

o desejo
é lampejo que mata
o tédio benfazejo.

mas vejo a praia,
agora deserta
e a flor nascitura
de sombra coberta...

já quase sem cor
a imagem post-mortem.
- foi ou não foi amor? -
me gasto no ontem.


imagem: detalhe da ufam 
por eli


.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

de chocalho e chacoalhão


“Sensacional!”
Com sorte
Sua insanidade
Sem sal
Sairia  
- Censurada - 
do jornal.