"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



domingo, 18 de agosto de 2013

Ré vertida*

é o verso inverso na canção
o acaso e o destino num refrão?
duas faces da moeda?
uma pedra no caminho?
e será o acaso um destino
que não se revela sozinho?
sei não.
mas caso o acaso seja
um destino que se enseja
antes da interpretação
não será o destino um acaso
em via de dupla mão?

*para Rodrigo Mebs

sábado, 17 de agosto de 2013

Revenge

ave!
uma chuva de olhos
sobre mim
ele pisava em ovos 
e eu soprava breves beijos 
por entre os lábios 
avermelhados

envaidecida
provoquei, me verti
na vaga do tempo veloz
voraz e sem valor
avalio
envileci.

fora vertigem
voo, viagem 
na avareza do instante
não me contive e vi
a vingança virgem
brotando suave no vento
e me valeu viver
por um momento
como quem vela
um inimigo inválido.

domingo, 11 de agosto de 2013

Do meu dia dos pais

Hoje é dia dos pais e eu, planta brotada, amanheci imersa em imagens, pensando e repensando o que sou...

Vi minha mãe, 
no distante oitenta e dois...
era um março? abril? era julho?
no meio da sala da avó
chorava a ida do pai 
tupi de quem herdei o orgulho
perdida raiz do que sou.

Depois,
há exatos vinte e dois anos atrás
num agosto
"mês de desgosto"
e "de cachorro louco"
não foi pouco o susto
quando o doutor me disse
que eram três bebês...

Ainda revi meu próprio pai,
naquele longínquo dia dos pais 
brindando com vinho barato
à minha barriga e seu conteúdo abstrato
(não havia caras nem nomes
nem lindas bochechas de apertar).
Num dia em que tudo foi susto
e dúvida e sombra e espera no ar
meu pai comemorava seus frutos
e os novos braços de sua árvore a brotar.

Saio do mar da memória
cansada de nadar
vou mexer no jardim: 
é domingo, o céu azul
flores novas, terra à vista
coisas que faço por mim.

A vida mais florida
rosas, gérberas, onze horas
e na manhã que parecia sem fim
ressoa a notícia: Geralda falecera.
Meu tempo pára.
Penso em minha mãe perdendo a mãe num dia dos pais,
penso na velha imersa em novos ais
penso na mais funda raiz que eu possuía
e que agora, quase sem função
nessa árvore cheia de galhos e frutos 
larga-se da planta para integrar-se à terra.

Revolvo o coração
as mãos sujas de terra e de lágrimas
por ela, por minha mãe e por mim
por meu pai, pelo pai de minha mãe, pelo pai de minhas filhas
pela vida, que assim sentida
tem-me algum sentido
mesmo quando finda.

Ainda chorando abro um sorriso
lembrando do sobrenome que eu tanto desejei
e que Geralda, minha avó, leva consigo:
Gozzo.