"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Outubro Dói.

O calor sufocante,
a proximidade da eleição,
o carro novamente no mecânico,
o corpo à beira da exaustão...

Tudo machuca quando se aproxima outubro
e sua ausência aniversaria 
se impondo a tudo
invadindo tudo
inundando sonhos e travesseiros.

Imagino tua censura sorridente
e como me envergonha
não calar no peito um choro sentido
dói me ver assim
dividida como quem sente e não sente.

Perdoa,
porque me é fonte de perene surpresa,
porque é um misto absurdo 
de alegria e tristeza,
e razão desse sofrer incontido
eu tê-lo visto partir
e mesmo assim, ter sobrevivido.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Perdão.

Feito criança,
cara suja, nariz escorrendo
os braços abertos terminando
em mãos imundas
me pedes abraço
carinho,
abrigo,
mais espaço.

Tomada por intenso mormaço
ignoro o quanto me infesta
esse apreço.

Limpo o coração
- Nalgum lugar do baço
interno o rancor -
e recebo-te como benção:
intensa de amor.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Informe

Que saiba que não eram estes
os planos
mas que sob os panos
esse pedaço de carne
chamado corpo
que juntos usamos
há tempos atrás
por causa de uns danos
à minha cabeça
não mais me pertence:
é seu, meu rapaz.

sábado, 13 de setembro de 2014

Noticiário de sábado

Choveu
longe daqui
o sangue cobriu o fio da adaga
e o fogo lambeu o corpo
de um septagenário.

Era só um homem
trabalhador humanitário
e era só um homem
pai de outro homem,
homens sós, reduzidos a nada
cabeças sob o sol e o céu azul
sob as lentes da loucura
por ódio e ganância
tombadas.

Enquanto isso,
noutro lugar, inclusive aqui
mulheres tomam a frente dos bandidos
que acabam de pedir pra sair.

Cobertos de horror
não são vermelhos,
e pesam como chumbo
os minutos desse dia.

Eu bem queria não ter visto
e é fatal
que a pergunta fique parecendo um cisto:
de que me vale
essa aurora boreal?

sábado, 6 de setembro de 2014

41 + 17 ou

DO QUE UM PLANO DE CAPACITAÇÃO PROVOCOU EM MIM

Já passei de meio-dia
ainda vejo o sol alto, sinto sua energia
ainda vejo sombras projetadas para baixo
e caminhos iluminados em diversas direções.

Mas já passei de meio-dia
logo serão três e quatro e seis e meia
como foi desde as zero hora
rápido demais.

Penso em quem partiu às duas
em quem não teve como plantar-se
feito memória.
Eu não
eu história já,
passando de meio-dia.

Juventude e potência, do devir destemidas
comprar casa, ter filho, fazer doutorado
todas essas coisas que ocupam quem está ao lado
mas deveras não tocam meu coração sob o sol.

De alguns caminhos que brilham
à minha frente, eu pergunto:
será que dá tempo de eu ir junto?

É dessa angústia que parece doer mas não dói
e do interesse de registrar uma aguda certeza
que se fez, de suavidade e aspereza
esse poema:
se um meteoro esconder o sol
e se fizer noite antes do esperado anoitecer
essa vida tão sentida e ressentida
já terá valido a pena.