"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 30 de maio de 2012

olhando pra frente e pra trás

choveu
e eu e eu e eu
caída na cama,
 - faltando-me o ar -
chorava mansinho
me salgando
devagar

não houve espaço
naquela triste tarde
pra nada do que hoje me arde...

o tempo passa
estou doce

mas quando chove
como agora
eu penso naquele terreno
que outrora
comprei no cemitério
não entendo do mistério
que foi depositar
o resto do teu corpo amado
naquele lugar

quando chove
eu me pergunto um pouco
antes do sal me calar:
como irás me receber
quando contigo
eu voltar a morar?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

qualquer amor*

falta a salvação da próxima alma
falta a alma para a próxima reza
falta reza para o próximo milagre
e falta o milagre.

falta a palavra da próxima linha
falta a linha da próxima estrada
falta a estrada da próxima viagem
e falta a viagem da próxima picada

falta a picada da próxima consciência
falta a consciência da próxima culpa
falta a culpa do próximo pecado
e falta o pecado.

porque sem você,
o que sinto e penso
é que a vida parece
em suspenso.

*um pouquinho de saúde

quinta-feira, 24 de maio de 2012

meu amor tem olhos
que me envolvem feito luva
os cabelos que me prendem
feito rede
tem a boca que me lava
feito chuva
e uma pele onde mato
minha sede

meu amor tem gesto exato
e gosto justo
eu o busco 
e o seu rosto iluminado 
me acalenta 
é meu amigo
e meu amado.

por que de amar, eu já sei
sou viciada 
meu amor
é certeza de perigo 
é a estrada 
onde me perco
e me abrigo.
 

segunda-feira, 21 de maio de 2012


meu peito
motor
minha pele
fogueira...
antes fora por amor,
mas não:
além do torpor
há meu nariz
cachoeira.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

é o desejo em nós estabelecendo
esses nós
essa dor atroz
esse gesto exposto
esse ardor no rosto
e esse fio de voz

é desejo que nos imobiliza
confunde
feito o sorriso da monalisa
é desejo
apenas
gerando penas e mágoas
é o desejo a mover as águas
que inundam o olhar

todo dia eu te vejo
e repito baixinho:
é muito desejo, mocinho...
 - pra nossa alegria e azar.



terça-feira, 15 de maio de 2012

simplesmente...

Tenho gastado horas estudando
a poda das roseiras,
o preparo de um prato,
a consistência dos vinhos
e como montar um puro.
Como o tempo urge
quero me graduar
em prazer e alegria
e dar palestras todo dia
a mim mesma
de como sou capaz
de ignorar ignorantes
e eleger a poesia
como parte essencial
da existência.
Vou fazer um doutorado
no que de fato me interessa:
ter uma única pressa
a de só compartilhar a vida
com quem merece meu apreço
com aqueles com quem teço
a métrica perfeita dos meus dias.
É o que agora eu mais desejo
poesia 
um puro, um vinho, 
um belo queijo.
Entre beijos sorridentes
partilhados com gente 
segura e generosa
pretendo fazer um pós-doc
pra aprender a viver
simplesmente
como as helicônias, 
as margaridas, 
as hortências, 
e as rosas.




terça-feira, 8 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012

sua música

quando meu amor faz amor
não quer silêncios,
seu cio
não sussurra nem sibila
antes berra
sobre os montes do meu corpo
antes grita
ante gretas entreabertas

meu amor faz amor
e música.

terça-feira, 1 de maio de 2012

quase morte

nessa hora o estômago embrulha
e cada olhada na hora
é fagulha pra uma explosão...
nessa hora
eu fico calada
porque não há palavra
que me distraia da sensação:
é quase morte
porque o tempo avança
e o feriado, com tudo de si,
parte.