"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



domingo, 24 de junho de 2012

para a moça mais bonita*


quando você vier
com seus braços
de envolver,
com dias que nasçam
sob sol ou chuva
e feito uma viúva
sussurrar baixinho
que tudo acabou...

eu, feliz,
ficarei toda entregue
e farei seu jogo
deixo
o passageiro fogo
de dias desencontrada
pra viver intensa
uma quinzena de ti
minha amada.

e quando te fores
com cara de outono
sentirei as dores
desse desengano:
ficar à espera
da volta tua
no final do ano.

*minhas férias

quarta-feira, 20 de junho de 2012

lógico


Na cheia
meu amor cavalo
me coiceia
causa dor por vontade e por prazer
não pretende negociar
nem aceita retroceder

No estio
meu amor cachorro
é um desafio
não mede esforço nem custo
tudo lhe é válido e lícito
tudo é justo.

Volta e meia
meu amor valente
já gorjeia
levantando a manhã antes do sol
é suave sereia
e rouxinol.

E quando me ataca
o amor de meia pataca
e me cobre com seus enfeites
eu enfim me animalizo:
nado, corro, salto
venço meus limites
zizio alto e abro voo...
por amor, se for preciso
eu me transformo num zoo!

sábado, 16 de junho de 2012

Com as garras de fora

hoje eu desisti de ser
amiga
joguei fora o silêncio
não evitei
a intriga

acendi o incenso
da desconfiança
e me armei completamente

não entrei na sua dança:
hoje
eu não quis ser inocente.

sexta-feira, 15 de junho de 2012


o medo que suprime
as palavras
não cala a vida
nem o peito

é o engano que arde
com tanto não dito
e mesmo tão tarde
o não cogitado
hoje
é quem me impacta
quando grita.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados


É necessário saber que solo é mais fértil
à planta dos pés.
Asfalto ou trilha no mato?
Reta ou fechadas curvas?
Descalço ou de sapato?
Pisando em ovos ou em uvas?

O bom caminho só vem depois.

É preciso optar pelo amargo ou pelo azedo,
decifrar nas papilas o sabor que eriça os pelos
e, sozinha, com cuidado e zelo,
construir a sensação da sobremesa.

A saciedade só vem depois.

Há que se ter argúcia
De mirar o próprio rosto
e identificar as minúcias
que para a vida dão gosto.

Felicidade só vem depois.

Não me assusto 
quando a solidão
sobre mim bafeja:
antes quero descobrir, 
com calma vagarosa,
o que meu ser deseja...

tudo o que quero
de um dia como hoje
é apreender
o que aos outros foge:
para namorar alguém,
outrossim,
eu preciso antes 
namorar a mim.

domingo, 10 de junho de 2012

Divisão

Amanhece um colorido tão intenso
Que meus olhos se colorem, se enrubescem
E se fecham, irrequietos e acossados
Pela luz dessa vida que se aquece.

Esse dia não combina com minh’alma
Que se engana, ao julgar que estava livre
E solitária vaga, voa, sobrevive
À condição de ser fratura, de ser trauma.

E meu corpo, esse cruel detalhe horrendo,
A expressão da alma minha não permite
Se alegra com o sol que se avizinha
Recolhendo-se pleno de limite.

Nessa luta, nesse campo, nessa arena
Sou a grama sob os pés dos paquidermes
Sou o marisco que se debate inerme
Nos desvãos da luta entre a rocha e o mar.

Quando tudo que eu queria era amar
Vem o sol, numa louca epifania
Cala o corpo, que berrava em histeria
Cala a alma, que folgava em se danar.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Rosa de Luto*



Ah, flor tão bela
que sangra na varanda
lanhada no próprio espinho...
Seiva amarga
gera mau vinho
e as formigas,
filhas da fúria
e feras fugazes
buscam lugares calmos
para fazer seu ninho
de falsas pazes.

São ácidas a culpa
a inveja e a morte
já as flores são bem doces
feito os amores e a sorte

sei que o que sobra de ti
é só o mel que te marca
atraindo o colibri
a bela dama e a monarca.

*poema em resposta ao Ácida, de Isabella Bella
Com adaptações sugeridas por Lucio Esper (obrigada, querido!)






crédito da imagem: http://www.blogcaicara.com/2012/03/borboleta-rosa-de-luto-papilio.html

sábado, 2 de junho de 2012

zodíaco


num aquário
com muito ar
não pude viver
depois nadei com os peixes
mas quase me afoguei em mágoas

escorpiões
foram feras traiçoeiras
virgens me afastaram
porque sou bagunceira
e abandonei gêmeos
que viviam na lua
 mas não me levavam lá

a dureza dos touros me assustou
leões quiseram me devorar
e, desequilibrada,
fugi das balanças.

eu bem sei o que prefiro
nessa vida e suas danças
tudo tão belo e humano:
maior prazer me confiro
quando refaço as tranças
de um autêntico ariano!