"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 21 de maio de 2014

Carlos

"A agressiva reação é inaceitável falta de educação!"
Sentenciou a escola.


Então deram ritalina pro menino albino
e ordenaram à mãe que ela o controlasse
que ela o contivesse, não importava
o quanto isso custasse.

Para ele não deram bola
e o suspenderiam todas as vezes
que ele se irritasse com o marasmo da escola.

A mãe, Pietá periférica
sem um Miguel Ângelus pra lhe retratar
lamenta que, dopado
o menino albino
em seu olhar de menino albino com onze anos
não denuncie os mesmos sonhos e vontades.

E do alto de suas altas habilidades
vi um menino indefeso
diante da intensa capacidade da grana
carregando de si o peso
vítima da imensa 
imbecilidade humana.


domingo, 11 de maio de 2014

Nesse dia...*

estende-se silenciosa
e viva
encravando-se na terra
a despeito das pedras no caminho
forte raiz

no alto
três galhos florescem
estirando-se para o céu
como se de tudo soubessem

e eu 
em meio às quatro
me sinto de fato
um tronco feliz.  

*para Wanda, Rebeca, Clarisse e Helena.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Despreza os altares
para si construídos.

Corta o sólido dos ares
feito um bólido,
descampa o nada
e nada em queda: 
livre.

Completa
mergulha no azul.

E aos pedaços
avermelha o mundo
com seus passos.

sábado, 3 de maio de 2014

Em minha defesa*

foi ou não por distração?
ignorei a cabrocha e violão,
dediquei meu pensamento
para as estrelas do mar...
que mais ordenas poeta
para assim me condenar?

triste é o amor que não se doa
guardado no peito, feito infiltração
age como a maresia
cumprindo no dia a dia
seu trabalho de erosão.

espalham-se por aí
amores doentes de vingança
que gritam, choram, esperneiam
crianças mimadas
fingem querer
sem querer mais nada.

na ruína de meu castro
finco da paixão o mastro
com todo ardor que me apraz:
assim eu mantenho a cor
do tanto porque me dano,
se não me engano já te disse
o transborde do meu amar
é o meu plano de paz.

- eu pisava os astros distraída?
que seja, siga-se a vida
andando faço o caminho
esteja a carne maturada
assim como o desejo,
o queijo
e bom vinho.

*Para Roberto Mibielli

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mas já é maio...

Abriu-se em mim uma vaga
e um espaço de silêncio
abriu-se o vão do desprezo
abriu-se a visão do nada
abril, não partes ileso:
abriu-me pr'outra jornada.

Eu vejo a corda esticada
forca do abril que me cala
no abrupto fim de um brado.

De saudade já me cubro
abrigo o abraço não dado
na memória de um outubro.