"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



sexta-feira, 27 de julho de 2012

por que passas

sobrevivo aos teus sobrevoos:
me protejo da peste
adoecendo 

entregue
espero que o diabo te carregue
e o tempo lave essa lava
que se espalhou dentro, em mim

por fim restará a memória
da minha pele calcinada
nem horror nem glória
mais nada.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ausente

onde a palavra faca pra cortar o gelo?
onde a palavra ponte cortando o horizonte?
onde a palavra sal, suprimento, esteio?

nem palavra, nem frase, nem verso...

em que universo você anda?
o quê é que a tua verve susta?

me conte...
pois você, silenciosa assim,
me assusta.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Oferenda


No reino de Oxum, Rio Negro, Novo Airão, Amazonas.


Quando água em todo lado
e silêncio, e mato
a carne crua exposta
era mais sobre a água e sob o sol:
ar em movimento
macaco, planta, inseto, areia

não houve pensamento anzol
que a fisgasse
entregue
seria sereia
não fosse antes
e apenas mais um 
presente pra Oxum.

quinta-feira, 12 de julho de 2012


e mais uma vez o dia perece
não carecia, mas a vida resolveu voar

segundas pareceram um pequeno conjunto de segundos
torci para que isso mudasse
 mas as terças desapareceram
nem vi as quartas
e a segunda quinta já está morrendo...

quem espera para si ter um tempinho
redondamente se engana
o tempo é a mais perecível das matérias
e eu me vejo, doidivanas
sorvendo o fim do finzinho
dessas férias.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

ele vem


meu amor vem me ver,
meu amor vem me ver,
meu amor vem me ver...
melhor que um gol do Timão,
melhor que ser convocado pra seleção,
melhor que jantar sorvete e ainda caber no corpete,
mais importante que ganhar medalha,
mais quente que fogo na palha,
mais claro que noite de lua,
mais belo que a mais bela nua,
mais doce que qualquer ambrosia,
mais excitante que o estudo
mais forte do que cachaça

porque quando ele me abraça
tudo passa, tudo passa
e eu me sinto tão feliz...

nessa vida por um triz
em que tudo faz doer
só não é melhor que viver
o meu amor vir me ver...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

por los regalos de ayer y hoy

Já tenho trinta e nove
mais uma volta inteira ao redor do sol
e hoje
chove.

Pulmão apertado
respiração difícil
desperto com... "tente!"

E não há tosse que limpe
não há grito que limpe
não há verso que limpe

Já tenho trinta e nove
hoje chove
e me vejo com nova
e doce necessidade:
como expectoro
a felicidade?


Para Clarisse, Helena e Rebeca, melhores presentes que a vida me deu,
para a Fiel, razão de ser corintiana,
e para você, meu Jam.

terça-feira, 3 de julho de 2012


Magra,muito magra
tinha cara
e corpo de fome
não gostava do próprio nome
e quando colhia
legumes sob as bancas da feira
não sabia o que seria
além da sopa daquele dia.

O que o tempo fez da menina
descabelada
que pouco comia
e capinava terrenos baldios
pra jogar bola
onde chutava mais canelas
que os garotos vadios com quem andava?
A menina que batucava em fundo de balde
que xingava os crentes na ladeira
magrela, desgrenhada e encrenqueira?

Anarquista metida à besta
impaciente tratada por diversas terapias
não seguiu a esmo,
filhas e palavras
tornaram-se sua lavra...

Teve outro nome outro cabelo muita comida
apaixonou-se pelo amor, pela política e pela vida
e segue faminta
em infinita autofagia
servindo-se crua
em sua poesia.





segunda-feira, 2 de julho de 2012

por ora*



Sempre fui meio cadela
esperando osso...
assim ,
faço o que posso
por um poço de carinho.

Daí que tá feito,
se ele me fala, toca e aquieta
se tão docemente se semeia
fazendo da vida a poesia mais concreta
não tem jeito,
eu me perco da minha aldeia,
e nem cogito resistir...

Já não sinto culpa nem pejo
tudo o que consigo pensar e sentir
quando ele sorri, faz piada e me dá trela
traduz em mim um só profundo desejo:
eu quero esse magrela.

*resultado de uma conversa com a mulher do espelho...