"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



segunda-feira, 27 de junho de 2016

Corpos

o corpo violado
o corpo violão
o corpo

o corpo generalizado
em homens e mulheres
o corpo sem gênero
em bebês com cara de joelho e roupa amarela
o corpo mumificado da história
o corpo de Cristo
mascado nos rituais de domingo
o corpo velho
inútil escrita do tempo

o corpo cavalo, músculo e relincho
o corpo mosca, suja leveza
o corpo corda, balde e poço

o corpo livre
em queda do oitavo andar

o corpo são
todas identidades cabíveis
e só o que importa
ser.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

me afogo
não me comovo com o fogo dos deuses
que aí transita
corre ruas esburacadas e atrapalha
trabalho e trânsito
digam que estou oca
mas não me comovo com o fogo de deuses importados
adentrando a maloca

me comovem mais esses gatos atropelados pelo asfalto
esses cães abandonados pelo campus
a injustiça dos ladrões me governando
me comove mais a cegueira e o descaso

eu
que venho há tempos tentando fechar ferida
reacender em mim o fogo da vida
que venho esticando músculo e cartilagem e osso
para ver se espremo uma gota de fogo que seja
no suor que lava a pele
não sei me comover com a artificial exterioridade
desse fogo dos deuses

prefiro ainda a centelha
do olhar dos garotos diante do poema
a centelha que brilha no olhar úmido
dos garotos diante do poema
fogo surgido da palavra que trabalha
única chama viva
que intransitivamente
por ora me calha.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Talvez queira ser só beijo
entrega, esfrega de língua na língua
e aquele torpor final, 
e fim.

Talvez queira ser só cheiro
de café vindo de lugar que não se sabe
no meio da tarde
assim.

Talvez essa palavra presa
não deseje ser vela acesa na escuridão
nem remédio, nem pão

Aspiro-a para dentro do peito
e ela jaz incômoda
sem saber se é poema
ou não.