"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

azulada
a pele acordada
desatando nós
desencontrados

teu suspiro
meu suspiro
desafio
arrepio
minha pele
tua pele
nosso cio.

ontem, nua
cavalguei a lua.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

de presentes e ausentes

no fim da noite infeliz
o presentinho 
 - esquecido sob a árvore - 
questionava angustiado
com o tempo que lhe cortava a carne 
feito foice a fino fio:
- não virá o esperado?

não fazia frio
era o retrato do abandono
o triste presente sem dono.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

é findiano

tanta alegria...
há um bicho que me arranha
por dentro:
não quero papo.

Tudo me cobra
a paciência que se exercita
mas é certo que estou um trapo.

Até que aceito e finjo bem,
mas odeio natal
e a obrigatoriedade da família reunida,
comida, bebida
etc e tal.

por isso, à meia noite
completamente despida
sob o céu e uma cortina de fumaça
quero que você me faça viajar
pra onde não haja mais nada:
nem família, nem comida,
a forçada alegria
hipocrisia
a me lanhar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ontem, no escuro
chorei feito criança
chorei pois a dança dos meus pensamentos
denunciava movimentos desesperados
nós desatados
desencontros e outros babados
que compunham uma colcha de horror.

ontem, no escuro do quarto
era noite e não acendi a luz
não acendi porque erroneamente supus
que isso iria aliviar a dor

ontem, um anjo triste me estendeu seus braços
destapei os olhos e me deixei verter
a duros passos, sem companhia,
num caminho de me perder
ontem, adormeci sozinha
tão só que a noite embrutecida
decidiu que seria companheira
foi-se logo embora
e amanheceu segunda-feira.

domingo, 16 de dezembro de 2012

para o melhor time do mundo

ouve o tropel?

hoje
meu coração que andava trotando
galopou o peito, violento
dentro
parecia se unir a outros milhões de corações
que também galopavam
num ritmo louco

eu fui ao céu.
(título mundial é pouco
eu amo mesmo é a Fiel)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Fim do Mundo


calor
e envolvimento:
pura proteção.

cuidado
e conforto:
um porto.

procuro meu fim de mundo
longe de agruras externas
e encontro no mais profundo
do entre de suas pernas.



"Buraco negro é uma 'coisa' 
que de negro tem tudo 
mas de buraco não tem nada." 
prof. Renato Las Casas. 
in www.observatorio.ufmg.br


sábado, 8 de dezembro de 2012

Poema com ciúme e tudo

Perdido em trilhas
virilhas novas
copos de maravilhas
versos e trovas
esqueceu os cabelos louros
esqueceu as falas e gestos
esqueceu as pernas abertas
esqueceu histórias e o resto.

Foi assim que veio o fim:
ele se meteu no fim do mundo
se esqueceu de tudo
e esqueceu de mim.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Vento

Van Gogh. 















Você jogou tudo fora
por inconstância, por medo
por excesso de segredo
ou motivo que ignora.

Não venha ventar agora.

Meu tempo hoje é de bonança
então leve sua dança
em silêncio pra bem longe...

Não venha plantar ciúme
nem apagar o meu lume 
esquecido de você.

 - e não espere outra chance
já morreu nosso romance
te aconselho a me esquecer.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

cura

meu amor é minha praça
se a dor meneia
apagando a raça
o orgulho, a graça,
perdida e lassa
ainda alcanço a caça
que me trapaceia.

num mar de fumaça
me entrego àquele
que melhor me abraça

me aninho em sua trança
até que toda dor se desfaça...

mansa
toda doença
e crença
oscila e passa.






segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Carne moída

poderia ser servida
no almoço
sobre o macarrão
ou entre o pão
com queijo e molho
poderia ser a preferida
ração do meu cachorro
ou ficar esquecida
na geladeira

a carne, moída
restos ralados
de um bicho morto...

e hoje
(dor e dor e dor e dor...)
é dessa matéria que meu corpo
todo parece se compor.

domingo, 25 de novembro de 2012

rolo de espinhos
descendo a garganta
soco
que vem de dentro
e o sufoco de se perder
no emaranhado do pensamento

cão que me morde e não late...
quem saberá quando vem
essa inimiga que me abate?

sábado, 24 de novembro de 2012

Aqui, em Marte

algo não vai bem
e ela vaga
suporta sentenças sem sentido
e sacramenta em sépia
todas as suposições transformadas em memória

debate-se dentro de si
sorrateira
silenciada e só

algo não vai bem
e vagarosa
a vida se converte
ora em morte
ora em arte

sábado, 3 de novembro de 2012

do dia dos mortos

minhas entranhas
absurdamente estranham
o que a imginação descerra:
a imagem da carne amada
desmanchada
numa caixa de madeira sob a terra.

é por isso que ao dois ignoro
se puder, sequer me lembro:
indo direto do primeiro
para o três de novembro.



sábado, 13 de outubro de 2012

Fastio

amanheci cansada
de todas as caras onde me abrigo
espalhadas como o campo
que o espantalho do espelho mira
hoje não haverá amigo velho
que dilua do dia esse gosto acentuado
de que vida voa e a morte espera

hoje acordei uma fera
com meus digeridos versos-rascunho
arquivados de próprio punho num autoimposto
sufoco.
hoje todo mal é pouco
porque o sol é louco
a pele está sensível
e a carne do coração
maturada.

Hoje é piada errada
porque, de mim,
amanheci cansada.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

correspondida


você me apetece
e a vida transborda
feito bárbara horda.

para minha alegria
o som que mais te apraz
está mais nas loucas
palavras sombrias
das minhas roucas
cordas vocais.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

presa

são suaves seus olhos
e me tocam
quando fecham
em silêncio

com sussurros
nós sonhamos
em degredo
e são ávidos
seus dedos
que me tocam

eu receio que meu medo se perdera
e pressinto que minh'alma ganhou dono
me permito ser tocada a noite inteira
alma e corpo olvidados do abandono

é assim, em pleno voo
que você me amarra:
madrugada e eu ecoo
feito as cordas
da tua guitarra.



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

lua de mel


deveras, avivo-me
e me suporta o som
de teu violão...

Ave vinho!
e tudo tão suave...
arde em nós
véspera de abortado e eterno feriado!

domingo, 30 de setembro de 2012

Redoendo

Nos dias em que você se ia
fazia calor e eu morria
de trabalhar de me preocupar
de correr e corroer
de dor ao ver você doer

você voltou, votou, fez o que quis
eu sei que foi assim e foi feliz
ainda que a despedida me tenha deixado
esse gosto de um tudo inacabado...

sempre assim, em setembro/outubro -
sinto reabrir a ferida
a memória dolorida e os olhos rubros.

certa de que fizemos o melhor de nós dois
busco superar a sombra
de sobrar sozinha
para ver o que vem depois.

sábado, 29 de setembro de 2012

Poema para Roberto

quando o ar lhe falta
e a dor lhe farta
quando a cama branca
e o incerto futuro
nos estapeiam e assustam
reafirma-se em mim a certeza
das horas sorridentes
e a natureza
das escritas carícias
e das carícias proscritas
que nossos olhos decifram

meu Roberto, meu poeta
esse poema
sobre o amor dos nossos zói
é uma carta pra dizer
que tua dor também me dói.


domingo, 23 de setembro de 2012

Olhos do cão

Quando assim
amanhece o cão
em mim
não adianta, nem vem,
por favor
'Seu' amor.

Nem vem
porque eu fico apática
não suporto seu rabo que balança.

'Seu' amor, não insista
meu olho de cão não vê graça em criança
nem em balanço de praça
nem em joguinho com pista...


Eu fico prática
e com esses olhos do cão
eu choro mas vejo
que tudo parece lampejo vago
e ilusão de ótica.



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

o ar nessas cordas
braços e promessas 
contra o relógio que nos ignora

atados
a noite passa
tão doce e incerta

tua pele
minha coberta
tua paz
minha paz por ora

assim desfiamos juntos
um rosário tosco
de oração comezinha
eu te amo e nada mais 
é a ladainha da noite quieta
que sob nossos nós se desfaz


terça-feira, 4 de setembro de 2012

nossa terça

então que há esse vento
nos acariciando a pele por dentro
e o provocado arrepio

há o som dessas cordas
invadindo-nos feito hordas
de um povo selvagem e frio

há o olor dessa fumaça
meu corpo que o teu abraça
paz, encanto, gesto, cio.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

o som do anseio

quando toca
a lira do meu desejo
delira em mim o delito
soa selvagem meu grito
em gesto ardente e sem pejo

quando ele vibra
cada fibra do que sou se estira
o sol atira seus raios
nos medos
e segredos vários
expiram

quando soam
essas notas infernais
os meus poros invadidos
são esgotos de gemidos
engastados no azul da madrugada

se ele soa eu silencio
e mais nada.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

então, quando tudo parece
simplesmente girar pro lado certo
essa sombra vem e abate o menino
instala em nós um silêncio comovido
pela consciência de que a despedida é,
para todos,
o derradeiro destino.


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

esse querer é um turvar das vistas,
um desvario sem variedade
é um olhar-se n'águas turvas
sem ver o espelho

é cometer o erro velho
de encantar-se
e o vício de se jogar
no mesmo antigo precipício.

para mim
é um elevado ato de egoísmo
porque é preciso
ser narciso
para amar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Maior


Amar o amor é meu jeito de sentir a eternidade
Por isso, amiga querida, esqueça a idade
quando eu, velhinha, chorar por amor
e não me lembre que estou démodé...

Minha vida inteira foi essa ilusão
correr e jogar tudo pelo chão
em troca de companhia sincera e desapressada.

Desmanchada em carinho, sexo, beijo, saliva
suor, cansaço, abraço, mão
busco, enquanto viva
um tempo de conforto para o destemperado coração.

Não tem problema,
é esse o tema de minha existência,
serei assim, e mesmo velha,
permanecerei em busca da primeva centelha
capaz de amar e reamar e mais amar
até que os dias pareçam insanos
e no fim
se o amor provocar em mim maiores danos
vou sofrer dores atrozes e fatais
me afogar em ais e ais
até que o tempo passe e apague tudo
que os olhos vertam litros
que lavem a alma e levem a dor.

Eu ficarei, de novo, à cata
de olhos, pensamentos, palavras
mãos e poros ávidos
de novos dias de poesia e gozo.
E morrerei feliz se ainda estiver esperando
com alegria e saudade
a visita do companheiro ideal
quem me dá sentido 
e mantém meu pensamento renovado
aquele que sempre foi o verdadeiro
e único amado:
o maior, 
o amor.

*poema que escrevi em 2008, para Blenda. Serve hoje ao Roberto Mibielli, por ter cometido seu "Autoajuda".

sexta-feira, 27 de julho de 2012

por que passas

sobrevivo aos teus sobrevoos:
me protejo da peste
adoecendo 

entregue
espero que o diabo te carregue
e o tempo lave essa lava
que se espalhou dentro, em mim

por fim restará a memória
da minha pele calcinada
nem horror nem glória
mais nada.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ausente

onde a palavra faca pra cortar o gelo?
onde a palavra ponte cortando o horizonte?
onde a palavra sal, suprimento, esteio?

nem palavra, nem frase, nem verso...

em que universo você anda?
o quê é que a tua verve susta?

me conte...
pois você, silenciosa assim,
me assusta.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Oferenda


No reino de Oxum, Rio Negro, Novo Airão, Amazonas.


Quando água em todo lado
e silêncio, e mato
a carne crua exposta
era mais sobre a água e sob o sol:
ar em movimento
macaco, planta, inseto, areia

não houve pensamento anzol
que a fisgasse
entregue
seria sereia
não fosse antes
e apenas mais um 
presente pra Oxum.

quinta-feira, 12 de julho de 2012


e mais uma vez o dia perece
não carecia, mas a vida resolveu voar

segundas pareceram um pequeno conjunto de segundos
torci para que isso mudasse
 mas as terças desapareceram
nem vi as quartas
e a segunda quinta já está morrendo...

quem espera para si ter um tempinho
redondamente se engana
o tempo é a mais perecível das matérias
e eu me vejo, doidivanas
sorvendo o fim do finzinho
dessas férias.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

ele vem


meu amor vem me ver,
meu amor vem me ver,
meu amor vem me ver...
melhor que um gol do Timão,
melhor que ser convocado pra seleção,
melhor que jantar sorvete e ainda caber no corpete,
mais importante que ganhar medalha,
mais quente que fogo na palha,
mais claro que noite de lua,
mais belo que a mais bela nua,
mais doce que qualquer ambrosia,
mais excitante que o estudo
mais forte do que cachaça

porque quando ele me abraça
tudo passa, tudo passa
e eu me sinto tão feliz...

nessa vida por um triz
em que tudo faz doer
só não é melhor que viver
o meu amor vir me ver...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

por los regalos de ayer y hoy

Já tenho trinta e nove
mais uma volta inteira ao redor do sol
e hoje
chove.

Pulmão apertado
respiração difícil
desperto com... "tente!"

E não há tosse que limpe
não há grito que limpe
não há verso que limpe

Já tenho trinta e nove
hoje chove
e me vejo com nova
e doce necessidade:
como expectoro
a felicidade?


Para Clarisse, Helena e Rebeca, melhores presentes que a vida me deu,
para a Fiel, razão de ser corintiana,
e para você, meu Jam.

terça-feira, 3 de julho de 2012


Magra,muito magra
tinha cara
e corpo de fome
não gostava do próprio nome
e quando colhia
legumes sob as bancas da feira
não sabia o que seria
além da sopa daquele dia.

O que o tempo fez da menina
descabelada
que pouco comia
e capinava terrenos baldios
pra jogar bola
onde chutava mais canelas
que os garotos vadios com quem andava?
A menina que batucava em fundo de balde
que xingava os crentes na ladeira
magrela, desgrenhada e encrenqueira?

Anarquista metida à besta
impaciente tratada por diversas terapias
não seguiu a esmo,
filhas e palavras
tornaram-se sua lavra...

Teve outro nome outro cabelo muita comida
apaixonou-se pelo amor, pela política e pela vida
e segue faminta
em infinita autofagia
servindo-se crua
em sua poesia.





segunda-feira, 2 de julho de 2012

por ora*



Sempre fui meio cadela
esperando osso...
assim ,
faço o que posso
por um poço de carinho.

Daí que tá feito,
se ele me fala, toca e aquieta
se tão docemente se semeia
fazendo da vida a poesia mais concreta
não tem jeito,
eu me perco da minha aldeia,
e nem cogito resistir...

Já não sinto culpa nem pejo
tudo o que consigo pensar e sentir
quando ele sorri, faz piada e me dá trela
traduz em mim um só profundo desejo:
eu quero esse magrela.

*resultado de uma conversa com a mulher do espelho...

domingo, 24 de junho de 2012

para a moça mais bonita*


quando você vier
com seus braços
de envolver,
com dias que nasçam
sob sol ou chuva
e feito uma viúva
sussurrar baixinho
que tudo acabou...

eu, feliz,
ficarei toda entregue
e farei seu jogo
deixo
o passageiro fogo
de dias desencontrada
pra viver intensa
uma quinzena de ti
minha amada.

e quando te fores
com cara de outono
sentirei as dores
desse desengano:
ficar à espera
da volta tua
no final do ano.

*minhas férias

quarta-feira, 20 de junho de 2012

lógico


Na cheia
meu amor cavalo
me coiceia
causa dor por vontade e por prazer
não pretende negociar
nem aceita retroceder

No estio
meu amor cachorro
é um desafio
não mede esforço nem custo
tudo lhe é válido e lícito
tudo é justo.

Volta e meia
meu amor valente
já gorjeia
levantando a manhã antes do sol
é suave sereia
e rouxinol.

E quando me ataca
o amor de meia pataca
e me cobre com seus enfeites
eu enfim me animalizo:
nado, corro, salto
venço meus limites
zizio alto e abro voo...
por amor, se for preciso
eu me transformo num zoo!

sábado, 16 de junho de 2012

Com as garras de fora

hoje eu desisti de ser
amiga
joguei fora o silêncio
não evitei
a intriga

acendi o incenso
da desconfiança
e me armei completamente

não entrei na sua dança:
hoje
eu não quis ser inocente.

sexta-feira, 15 de junho de 2012


o medo que suprime
as palavras
não cala a vida
nem o peito

é o engano que arde
com tanto não dito
e mesmo tão tarde
o não cogitado
hoje
é quem me impacta
quando grita.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados


É necessário saber que solo é mais fértil
à planta dos pés.
Asfalto ou trilha no mato?
Reta ou fechadas curvas?
Descalço ou de sapato?
Pisando em ovos ou em uvas?

O bom caminho só vem depois.

É preciso optar pelo amargo ou pelo azedo,
decifrar nas papilas o sabor que eriça os pelos
e, sozinha, com cuidado e zelo,
construir a sensação da sobremesa.

A saciedade só vem depois.

Há que se ter argúcia
De mirar o próprio rosto
e identificar as minúcias
que para a vida dão gosto.

Felicidade só vem depois.

Não me assusto 
quando a solidão
sobre mim bafeja:
antes quero descobrir, 
com calma vagarosa,
o que meu ser deseja...

tudo o que quero
de um dia como hoje
é apreender
o que aos outros foge:
para namorar alguém,
outrossim,
eu preciso antes 
namorar a mim.

domingo, 10 de junho de 2012

Divisão

Amanhece um colorido tão intenso
Que meus olhos se colorem, se enrubescem
E se fecham, irrequietos e acossados
Pela luz dessa vida que se aquece.

Esse dia não combina com minh’alma
Que se engana, ao julgar que estava livre
E solitária vaga, voa, sobrevive
À condição de ser fratura, de ser trauma.

E meu corpo, esse cruel detalhe horrendo,
A expressão da alma minha não permite
Se alegra com o sol que se avizinha
Recolhendo-se pleno de limite.

Nessa luta, nesse campo, nessa arena
Sou a grama sob os pés dos paquidermes
Sou o marisco que se debate inerme
Nos desvãos da luta entre a rocha e o mar.

Quando tudo que eu queria era amar
Vem o sol, numa louca epifania
Cala o corpo, que berrava em histeria
Cala a alma, que folgava em se danar.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Rosa de Luto*



Ah, flor tão bela
que sangra na varanda
lanhada no próprio espinho...
Seiva amarga
gera mau vinho
e as formigas,
filhas da fúria
e feras fugazes
buscam lugares calmos
para fazer seu ninho
de falsas pazes.

São ácidas a culpa
a inveja e a morte
já as flores são bem doces
feito os amores e a sorte

sei que o que sobra de ti
é só o mel que te marca
atraindo o colibri
a bela dama e a monarca.

*poema em resposta ao Ácida, de Isabella Bella
Com adaptações sugeridas por Lucio Esper (obrigada, querido!)






crédito da imagem: http://www.blogcaicara.com/2012/03/borboleta-rosa-de-luto-papilio.html

sábado, 2 de junho de 2012

zodíaco


num aquário
com muito ar
não pude viver
depois nadei com os peixes
mas quase me afoguei em mágoas

escorpiões
foram feras traiçoeiras
virgens me afastaram
porque sou bagunceira
e abandonei gêmeos
que viviam na lua
 mas não me levavam lá

a dureza dos touros me assustou
leões quiseram me devorar
e, desequilibrada,
fugi das balanças.

eu bem sei o que prefiro
nessa vida e suas danças
tudo tão belo e humano:
maior prazer me confiro
quando refaço as tranças
de um autêntico ariano!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

olhando pra frente e pra trás

choveu
e eu e eu e eu
caída na cama,
 - faltando-me o ar -
chorava mansinho
me salgando
devagar

não houve espaço
naquela triste tarde
pra nada do que hoje me arde...

o tempo passa
estou doce

mas quando chove
como agora
eu penso naquele terreno
que outrora
comprei no cemitério
não entendo do mistério
que foi depositar
o resto do teu corpo amado
naquele lugar

quando chove
eu me pergunto um pouco
antes do sal me calar:
como irás me receber
quando contigo
eu voltar a morar?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

qualquer amor*

falta a salvação da próxima alma
falta a alma para a próxima reza
falta reza para o próximo milagre
e falta o milagre.

falta a palavra da próxima linha
falta a linha da próxima estrada
falta a estrada da próxima viagem
e falta a viagem da próxima picada

falta a picada da próxima consciência
falta a consciência da próxima culpa
falta a culpa do próximo pecado
e falta o pecado.

porque sem você,
o que sinto e penso
é que a vida parece
em suspenso.

*um pouquinho de saúde

quinta-feira, 24 de maio de 2012

meu amor tem olhos
que me envolvem feito luva
os cabelos que me prendem
feito rede
tem a boca que me lava
feito chuva
e uma pele onde mato
minha sede

meu amor tem gesto exato
e gosto justo
eu o busco 
e o seu rosto iluminado 
me acalenta 
é meu amigo
e meu amado.

por que de amar, eu já sei
sou viciada 
meu amor
é certeza de perigo 
é a estrada 
onde me perco
e me abrigo.
 

segunda-feira, 21 de maio de 2012


meu peito
motor
minha pele
fogueira...
antes fora por amor,
mas não:
além do torpor
há meu nariz
cachoeira.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

é o desejo em nós estabelecendo
esses nós
essa dor atroz
esse gesto exposto
esse ardor no rosto
e esse fio de voz

é desejo que nos imobiliza
confunde
feito o sorriso da monalisa
é desejo
apenas
gerando penas e mágoas
é o desejo a mover as águas
que inundam o olhar

todo dia eu te vejo
e repito baixinho:
é muito desejo, mocinho...
 - pra nossa alegria e azar.



terça-feira, 15 de maio de 2012

simplesmente...

Tenho gastado horas estudando
a poda das roseiras,
o preparo de um prato,
a consistência dos vinhos
e como montar um puro.
Como o tempo urge
quero me graduar
em prazer e alegria
e dar palestras todo dia
a mim mesma
de como sou capaz
de ignorar ignorantes
e eleger a poesia
como parte essencial
da existência.
Vou fazer um doutorado
no que de fato me interessa:
ter uma única pressa
a de só compartilhar a vida
com quem merece meu apreço
com aqueles com quem teço
a métrica perfeita dos meus dias.
É o que agora eu mais desejo
poesia 
um puro, um vinho, 
um belo queijo.
Entre beijos sorridentes
partilhados com gente 
segura e generosa
pretendo fazer um pós-doc
pra aprender a viver
simplesmente
como as helicônias, 
as margaridas, 
as hortências, 
e as rosas.




terça-feira, 8 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012

sua música

quando meu amor faz amor
não quer silêncios,
seu cio
não sussurra nem sibila
antes berra
sobre os montes do meu corpo
antes grita
ante gretas entreabertas

meu amor faz amor
e música.

terça-feira, 1 de maio de 2012

quase morte

nessa hora o estômago embrulha
e cada olhada na hora
é fagulha pra uma explosão...
nessa hora
eu fico calada
porque não há palavra
que me distraia da sensação:
é quase morte
porque o tempo avança
e o feriado, com tudo de si,
parte.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

poema pra minha gata

eu mereço
essa gata no meu pé
arrasando os meus planos
de estar sozinha
e é quase minha
Lis, Bella
essa mistura de gente e bicho
que parece me ler numa olhada
que me arranha e me deixa desmanchada
de amor e carinho
eu mereço
que ela faça do meu cabelo
o seu ninho
que ela encontre no meu colo
o refúgio
que ela fique comigo
enquanto, do resto do mundo,
eu fujo.  

quarta-feira, 25 de abril de 2012

espinha na garganta,
pedra no sapato!
hoje ele está aqui desde cedo
assombrando
mas não sai,
o recalcado quer me torturar
me alcançar com sua lança
e se fazer trejeito
hoje ele está aqui desde cedo
mas não quer vir ao mundo
o poema perfeito
silencioso
só quer se abrigar
no meu peito.


pra onde o mundo vai

não começou com um olhar
ou um sorriso,
foi fumaça no momento preciso
soprada quente na minha boca
foi o escuro e o guiamento
a noite vadia, a vida vazia,
o alumbramento de estar louca
e da febre não ser pouca...

não começou com olhar nem sorriso
foi guizo de destino
coisa de menino perdido no shopping center
brinquedo sem pressa,
folguedo de praça
alegria sem preço.

agora que segue
não sei para onde

e dentro de mim
esse amor sem fim
se esconde.

domingo, 22 de abril de 2012

Reforma Elétrica

Não quero mais circular
provocando curtos circuitos:
cansei da fuga de energia
e dos maus contatos.



sexta-feira, 20 de abril de 2012

A vida é putrefata experiência
a vida em essência
é feita pra gastar
Limpeza e saúde em excesso
não expressam
grande saber...

Prefiro o vício
o ácido, o ócio
por saber:
estamos vivos
pra morrer.


*feito em resposta ao poema de Jaime Brasil Filho. Valeu pelo mote!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

poema pra minha namorada

minha menina
me leva por caminhos incertos
mas mantém meus olhos abertos

espero que ela registre por mim
e melhor 
a cor de tudo

nesse acordo
ela é meu exercício
sobre o precipício
do estudo

minha menina me ajuda
a dizer o que quero
quando mudo...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

proposta pra bela e pra fera*


eu, hein?
poesia é minha moeda de troca
é a senha que me desentoca
quero mais palavra no meu ouvido
e barulhentos
nos perdemos no olvido.
Quando não dá, faço a moderna:
levo a moeda
a passear na taberna
aceito quem me abraça
bebo o vinho, quebro a taça
e finjo que não sei
quem quebrou o espelho.

com luxuriosa inveja
de longe observo vocês
e vem o desejo velho:
que tal fazermos a três?


* em resposta a Isabella Bela e Roberto Mibielli.

domingo, 15 de abril de 2012

Meu peito aperta
por um cheiro antigo
lembro das tuas mãos nos meus braços
apertando-me em abraços
de cuidado e proteção.

num instante grita a falta
das gargalhadas
do gozo aflito
das brigas sem um único grito
das noites de amor e degredo
do mistério de não manter um segredo
e da inquietação tão nossa
de fazer alguma coisa
ou coisa alguma,
juntos.

essa dor não se apaga
reaparece quando penso estar dançando
queima os cantos do que sou
dilacerando cada certeza
desencanta-se o mundo.

Nessa hora de lembrança solitária
entre gente que me cerca sem me ver
sinto frio
e o salão de baile fica vazio
completamente vazio
sem você.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

naufrágio


quando você apareceu
olhos faróis
em meio ao breu
eu barco a vela
na tormenta
me refizera
e ignorara se seria a hora:
agora era navegar
de novo
no escuro
desse amar profundo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Poema para Roberto ou Da contra-indicação do amor líquido

ah como desce mal esse gole
antes queimasse feito cachaça
antes doesse feito pedaço
grande demais
mas não.

como desaprender
e se desprender
desses séculos de amor
que nos envolvem?

por ora o amor des-envolve-se
e as novas formas
parecem devolver a tudo
o acordo frio
calculado
seco
de muito outrora.

antigos
eu e você gostamos da queda
do soco no estômago
do susto que é amar
solidamente
e do risco de dar
de cara na pedra
do gesto repetido
na ponta da faca.

para nós não se indica
o amor líquido, não:
é certeza de mais ressaca
e menos alucinação...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Falsete

Two man dancing at a drag ball. ARBUS, D. 1970.

Ela passeia por estradas que já conheceu
desejando sentir o perfume que já foi seu
sorri em volta 
esperando de volta
um sorriso que nunca deu.

Sinceridade é moeda rara 
e ela não possui
acredita-se revolucionária
mas em duas tardes
a imagem rui:

Solitária 
pós-moderna
líquida e incerta.

Não tenho surpresa nem alegria
quando de novo o meu quintal visita
essa que fora uma promessa bonita  
revelada agora
só uma sombra vazia. 

domingo, 1 de abril de 2012

Manhã,
caminho até a padaria
o mundo me enche as retinas
e tudo merecia
ser fotografia:

dois pombos que se banham na poça de lama
dois coqueiros em contra luz e um insultante céu azul
um espinheiro que abraça uma pilastra em concreto
uma moita do mais ordinário mato, sorridentemente florida.

Foi só uma noite de dor
e amanheço assim,
impressionada com a vida.

sábado, 31 de março de 2012

os sons do silêncio



anoitece
e então, 
na primeira hora
essa ânsia chega 
 meu corpo ignora
o sono, o cansaço
em mim se escasseia a dor 
pelo excesso de espaço...
negaceio a tristeza
jogada no chão da sala,
atenta,
ouço o silêncio
que de amor que me fala.

quinta-feira, 29 de março de 2012

as ondas de seus cabelos que eu afago
são um terno e morno mar onde me afogo
o toque do seu olhar sobre meu corpo
é a brisa que em mim ateia o fogo
sua voz que não é grave, nem aguda,
encerra em mim esse "deus me acuda!"

o que dizer do alvo da pele crua
e da visão de paraíso que cada extensão
desse caminho insinua?

eu conheço bem o nome dessa dança
caminhante dessa senda
eu já sigo, embriagada
vou voltando a ser criança
que não teme
calmaria nem contenda:
vou sem leme
apaixonada...


segunda-feira, 26 de março de 2012

fui me embora
levei meus versos e rimas
proutro quintal
de onde vejo o céu e a lua
ao natural
aqui, canção, fumaça e rua
integram um ideal
de parceria
construir
alegria crua
sem ponto final

aqui mesmo vestida
sinto-me nua
e nesse Bacanal
tudo é semente
vinho é somente
mais um sabor
a compor
o prato principal

fui me embora
me alimentar de um amor
iguaria sem igual

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pacífica


meio perdida
nesse deserto sem medida
ando calada
não há mais nada
o que falar...

feito quem come
feito quem morde
feito quem some
feito quem dorme

sufocada de amor
a mente silente
quase torpor
é a paz que se sente.

terça-feira, 20 de março de 2012

pé de esperar

feito semente
que sabe que explodirá
no horizonte
perco pedaços de olhar
pra renascer inteira
pitangueira
ou jacarandá.

quinta-feira, 15 de março de 2012

quero a madrugada branca
bêbada
de sono
alma inquieta
no teu braço

quero esse laço
um num par
a carne nossa toda envolta
das ondas de doce ócio
ah mar...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Recomeço

o tempo me roça
e meu coração tem pressa
de viver a promessa
essa ameaça
para o olhar que se embaça
para a alegria escassa
diante da vidraça...

quero tudo o que mais refaça
o prazer e a graça que há nessa presença
o enlace de nossas conversas...
isso tudo, a prosa mansa
que a vida amacia
o jeito criança que de mim faz troça
e esse corpo teu, que doce
me abraça.

sexta-feira, 9 de março de 2012

rumo à serra

Comprei um sonho no banco
em cinquenta prestações
não sei se caro ou barato
quanto custam as emoções?
Comprei parte de um delírio
encher meus olhos de flores
fazer do mundo um colírio
à noite morrer de amores
depois de beber bom vinho
e na rede descansar
me entregando aos carinhos
de alguém que saiba se dar.

Comprei um sonho no banco
e, amanhã, vou buscar...


quinta-feira, 8 de março de 2012

que espécie de dia é esse?

E o que foi que eu fiz?
não sou santa
nem meretriz
nem tiro ouro do nariz
apesar de, punk e jovem
ter tomado banho em chafariz.

Que  foi que fiz?
Não fiz nada...
até aqui
apenas segui a possível estrada
gritei, lutei, chorei, bati
fiquei abobada
odiei, amei, enlouqueci
sem que o mundo parasse por isso.

Sou pura e vício
e não me engano:
sou precipício e salvação
como todo e qualquer humano.

então por quê esses parabéns
que recebo apenas por ser quem sou
todo ano?

terça-feira, 6 de março de 2012

para a família de Davi

Olho, Dali.

eram dois cegos
eram três filhos
e nessa vida eu reconheço os trilhos

eram três filhos
eram dois cegos
e dessa cruz eu reconheço os pregos

fosse eu mais cega
e só seria espanto
sem enxergar a quanto
uma parceria chega...

fosse eu mais cega
e só veria horror
onde trilhos e pregos denunciam
uma linda história de amor

segunda-feira, 5 de março de 2012

Fervida

minha vida
é fervida
porque odeio
odeio quando me põem freio
quando me perguntam se não receio
e por que fazer rodeio?
odeio a verdade
que me acerta em cheio
quando me dizem que melhor
é o caminho do meio.

domingo, 4 de março de 2012

Foto de German Lorca, Menino Correndo. 

A razão de meu sorriso?
Amar me refaz poeta
e é tudo de que preciso.

É assim mesmo,
não é segredo
quando o amor me fala
destrói e arruína
o medo,
meu talão de desenganos
fica sem fundos
e nem o pior dos mundos
me impede de traçar novos planos.

É assim mesmo,
não dá pra negar
quando o amor em mim brota
temporariamente saio do ar
mudo de rota
e me redescubro completa.

O amor em mim é trepadeira
que se espalha brejeira
acaba com o marasmo
e trabalha
aniquilando qualquer vestígio de solidão...

É assim mesmo, tem jeito não...
enquanto o sol da rotina não o seque
é só alegria e encanto que ele me traz
por que o amor em mim é sempre assim
moleque demais.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O Galo de Soba. T Chincange. in: http://kimbolagoa.blogs.sapo.pt 

sou galo
esporas e penas
e asas que pesam
mais do que libertam

sou galo
de afiado bico
olho e certifico
do mundo o deserto:
em meu canto
não canto,
desperto.

pensando no novo
no belo do ovo
talvez me perguntem:
 - por quê não galinha?
e eu, cabisbaixo
só digo o que acho:
 - a vida é uma rinha!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

da falta que sinto

minha cama morna
e com espaço a mais...
é um naco amargo
que a manhã adorna
com suaves ais.

o meu pensamento
é trilha sem volta
e de ti fervilha

logo que desperto
nado em mar aberto
sem ver praia ou ilha.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

o sol
dispersando
a solidão
sacudiu a sorte
separou-me do silêncio
secou meus olhos

soprou sereno
senhas e signos
sonhos selvagens
e sons ancestres
nos meus ouvidos

depois anoiteceu
e no coração, inserta,
salta selvagem
essa saudade
redescoberta.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

balanço dos dias

imagem de Ai Shinohara, selecionada por Andréa Cordeiro

o que cabe nesse furo
que abrimos pro futuro? 

feito peixe
nado nesse facho de luz
a janela entreaberta me conduz

receita certa pra ser feliz?
é por um triz
essa nova chance?

quero escrever a punho essa história
construir cada ponto da nova memória
encarar o que está encoberto
sem temor

ver tudo dar certo
e no fim morrer...
de amor.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

nem ligar para dor ou pesar
nem pesar o que levar
levada espalhar
travessura no caminho...
caminho ao teu lado
e ninguém mais chuva: 
sobre a viúva
- antes sozinho - 
um solzinho!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

minha fome
não tem nome
se espalha pela pele
pelos cabelos molhados
pelos pêlos

minha fome
resume mil apelos
inconfessáveis
cobertos de incontáveis
zelos.

e não há água bruta
que dê jeito

mesmo que ao mundo,
noite e dia, eu degluta
não se sacia
o desejo dela oriundo...




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carne-aval

todo o pronto
todo encanto
tudo quanto
eu possua
já virou investimento

e por mais que eu intua
que a razão se foi pra lua
tudo que sou 
e que sobre meu ser flutua
só traduzem uma ideia:
minha carne
quer ser
tua.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carnaval

Não haverá lua cheia
e ainda assim
a energia que teu corpo
no meu semeia
iluminará o porto
da eternidade
ensaiada em mim.


rindo à toa

acho graça
do que passa
do que não passa
sorrio mais
de coisas importantes
e banais.

estou assim
nesse estado
abobado

olhando no espelho
me inquiro se é sandice
mas algo agora
quase me convence
que estar triste
é que é tolice.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

esfriamento global

antes parte
do mar
dissolvo-me
resolvo a-mar

em novo âmbito
ponho-me incurso
livre, longe
alojado entre o erro e o acerto
desperto líquido,
decerto insípido
aberto,
auto-tóxico.

esverdeadas
as escamas espalhadas
sob a luz que me banha

e tudo em volta frio:
tudo rio.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

de memória

A loucura é magra
branca e pequena
tem fala serena
numa voz que é rouca.

A loucura
se vista de cima
até parece pouca,
quase não alucina.
Mas deixa seu rastro,
o raro escorpião:
a tudo destrói
tudo põe no chão...

A loucura não se rende
invade a memória
e destrói 
devaneios de outrora...

Não me iludo
não sei de tudo
mas algo sei:
para ela, não há lei
a loucura é bárbara.

Auditivo

Ontem o amor veio me falar
e já era tempo
dou-lhe alento
sou-lhe unguento
e outras formas de cuidado...
Deixou-me surdo
cansado,
à espera de outro remédio...
(porque amor sem tato
é um tédio!)

Poema feito em resposta a outro, sem título, de Roberto Mibielli, publicado no Facebook na primeira hora dessa quarta-feira.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

SMS

 
Las tres esfinges de Bikini, por Salvador Dali, 1947.

Mesmo no quinto
dos infernos
vencemos o deserto
e com modernos
sinais de fumaça
ficamos perto...

(e sei
que nem é por isso
que entre nós se desfaz
a noção de espaço:
é por dentro
e com a cabeça
que te abraço...)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Se me concedesse
o gênio
um desejo,
seria a palavra definitiva
e eu,
intuitiva,
descreveria 
todo esse livro
de quinze dias.

e o faria assim,
num termo,
sem prefácio nem fim.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ela fala
falta, furta
fere e afere desejo
e o que mais em si
for festejo:

Tátil,
dócil...

É de fato
quase fácil,
não fosse
a fita amarela
sobre ela:
 - FRÁGIL.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Do meu romantismo - Refeito

Acusação: romântica

E não sou?
Sou lobo de matilha
do tipo que compartilha
o uivo para a lua.
Apaixonada
cometo pequenos e calculados delitos:
roubo
beijos
sequestro-me
por horas
mato
saudade e desejo.
Guardo na boca vazia
o sabor da noite passada
ainda que me digam 'louca'
- que heresia! -
toda aventura será pouca

"E digo mais"
meu rapaz:
em tempo de tanto egoísmo
e medo do outro e engano
e ciúme e posse e mentira
luto e danço
sob outra lira.
Em tempo de gente que pira
por carro, casa e grana
eu só posso achar bacana
amar assim, por amar.

Se sou romântica? Sou.
Nada mais a declarar.

O poema original publicado às quatro da manhã no facebook merecia uma mexida. Foi o que fiz. Se quiser conferir o original, acesse https://www.facebook.com/note.php?note_id=243581875717965




domingo, 29 de janeiro de 2012

Biutiful

Amanheço tarde                                                                    Amanheço tarde
já é tarde                                                                               já é tarde
o sol no meio...                                                                      o sol no meio...
penso naquele que me invade                                                 Em mim nem sombra
e por quem arde                                                                    de cuidado
meu anseio.                                                                           ou de receio.

De novo em brasas
por amor e vício
saltam sem asas
para o precipício.

sábado, 28 de janeiro de 2012













Small Pleasures, Kandinsky -1913.
(Imagem escolhida por Andréa Cordeiro)






Havia cor 
e bonecas e bruxas
e crianças cheias de coragem 
e amor.
Havia um trator azul
contrastando com a lama
descontrolado
rumo ao sul.
Havia esperança
em uma cabeça prateada
que falava silenciosa
expectativa e desejo.

E eu,
observando a tudo
mesmo cheia de medo
não queria acordar tão cedo.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Enquanto os outros dormem...




Essa minha ausência crônica de sono
é patética
nasceu de um maldito abandono
se faz musical, literária, cibernética...

Depois de anos de terapia
já dá pra fazer poesia
dessa maldita patologia!

Eu sei que o caso é caótico
e que assim sempre houvera sido...
e hoje, um gótico
é meu 'tarja-preta' preferido.



Nick Cave...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

eu me afogo
quando me afagas
eu me afogo
quando me faltas
eu me afogo
quando me falas
eu me afogo
quando me falhas

porque fuga
não me fascina
e porque és mar
não piscina.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

imagem retirada do blog Letras de Sangue

Anoitece, ela desperta...
na noite deserta
a passos lentos
o som de seus saltos
fere os pensamentos.

Por toda a noite
é fagulha:
dança atiça gargalha...
triste alegria,
falsa fantasia,
vida em falha.

e antes de amanhecer
se retira
 - solitária - 
a vampira.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

resposta

vítima e algoz
escravo e senhor
lento e veloz
que mais seria?

chega
então toca dentro
me desentoca e alimenta
enleva o verso
verte desejo por toda parte
vira arte
enche a vida
esperança e cor
que mais seria?
que mais seria?

vem
então desenvolve sonho
devolve o sono
estabelece paz
e é tudo invertido:
em perspectiva
enche a vida
alegria e sabor
que mais seria?
que mais seria?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Hoje
me afastei de ti
pra te ver melhor
e vi
em toda cor
a minha vida.
O que se via
era uma fotografia:
o passado ao fundo,
desfocado
e em primeiro plano
um recomeço
uma promessa do acaso,
um conto inacabado
com você,
amado.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

outra fome

boto fé
é melhor que almoço, jantar
e café.

com certeza
é melhor 
que sobremesa

pro meu paladar
bom mesmo 
é te degustar...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Senhor perfeito

Quando falo em perfeição
não estou tratando da falta 
de defeitos
da pureza dos conceitos
nem de outra coisa etérea,
é de algo mais palpável
e sem juízo
do que me diz o meu 
espelho de narciso
é da pele, da matéria.

E é por enxergá-la
que compartilho sua casa
minha roupa
nossas asas.

Esse jeito homem/menino
te instalou certeiro
dentro do meu peito...

Foi esse jeito teu que me abateu,
e te fez 
senhor perfeito. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Preservação

Quero manter em mim a sensação
de um noturno banho de rio
a liberdade da pele nua
seus dentes batendo de frio
e nossos pensamentos
construindo
uma intimidade apaixonada.


Por mim,
amigo querido, continuaremos
rompendo as regras:
incendiários,
criaremos tempo
além de horários,
turvaremos sentidos vencendo eras,
unidos comparsas
beijaremos o eterno das nossas
antigas quimeras.


sábado, 14 de janeiro de 2012

Se for, já é...

Juraria até querer e
arejar nosso
mundo, com carinho
incansável e sem 
limites.

Até lá, 
entretanto,
se te faço
uma promessa
é a de manter esse encanto
olhando você 
sem pressa.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

meus dias para Bella

Há dias que me sei inteira
à beira do precipício
completamente entregue
ao prazer, ao amor, ao vício
há dias que me sei viva
em carne viva
ardendo atroz
há dias vivo
intensamente
bebendo a saliva
de meu algoz.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Guitar Hero

(ei, me escolhe? me agarra? 
toca-me, 
como à tua guitarra...)

Anoitece
e ânsia arde 
até tarde.

Não me cansa
o fato,
a caça,
palavra e ato.

Quero agora
sem demora
tua pele marfim,
teu cabelo negro
teus olhos e sorriso.

Eu preciso
que seja um instante
impreciso e sem fim
sobre mim, sob mim,
pouco importa:
sobre em mim...

domingo, 8 de janeiro de 2012

Manaus de novo

for Jam

Aprecio
quem se joga
se entrega
voa, se doa,
arde, pede
e corre atrás.
Aqueles para quem a margem
nunca é suficiente:
aprecio quem se afoga
de forma furiosa
e inconsequente.

Me incomoda,
me incomoda severamente,
o burocrata
e suas paixões organizadas em gavetinhas
enclausuradas em dias certos
feito folhinhas.

Aprecio o amor às dez da manhã da segunda-feira
o beijo de língua na fila do banco
o amor sem hora
sem eira nem beira:
que voa baixo 800 kilômetros
e é manco.





sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Placidez

O sol morre e renasce, reverente,
à paixão com que queimamos nossa noite
tua pele toca a minha lentamente
e fogo brando nos consome num açoite...

Com a língua lavo as letras tatuadas
em teu corpo rijo e solto de menino
nossas bocas foram desenhando estradas
onde apenas o prazer foi peregrino.

Fortalece-me essa juventude tua
debruçada sobre a minha carne crua
nua e livre de pudor e de maldade:

nos amamos até que surgisse o dia
estudantes de nossa anatomia
e rendidos ao desejo que nos arde.

PS:
Essa ânsia que, há tempos, meu amigo,
já nos enche dessa sede e dessa fome,
é doçura, e saciada, vira abrigo
nos unindo sob um céu que tem teu nome.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Novo ano...

Foram 113 poemas no ano passado. 85 seguidores cadastrados, muitos outros visitando. Chegando à casa das 10 mil visualizações. Num blog de poesia, feito por uma poeta sem grandes pretensões, que fugiu de São Paulo para viver no mais recôndito e extremo norte, isso é considerável.
Em 2012, o blog vai continuar. No ritmo que o mundo mandar, o mundo do meu coração, que rege as minhas palavras. Agradeço a cada um que veio aqui, que comentou, que clicou dando sua opinião, que sugeriu temas, etc. Já começo pedindo desculpa a quem pediu um poema de ano novo... por mais que eu tente, ainda nesse dia 04, tudo me parece muito igual...
Abraço a todos, feliz 2012!



ANO NOVO

Eu, poeta do XIX
embriagada de luz e poesia 
sinto a energia que me dedicas
quando inicia esse dia...

Mas é fato que ando
envolta em medo
e a causa não é outra,
não é segredo: 
a outro meu coração tem pertencido.

Sei que é um outro 
que me presenteia
com ausência,
negligência,
e outras formas de dor
diversas.

Ainda assim,
querubim,
não haverá novo ensaio
antes que feneça
esta antiga peça...