Edvard Munch, Ansiedade, 1894.
É dor tanta, e saudade, e vontade frustrada
a poesia sufocada, o coração estreito
no ar que não entra direito no peito
fogo rasteiro destruindo ninho
destruindo sonho, des-tru-in-do caminho
de cooperação e fé e unidade e luta
é sempre o mesmo signo regendo esse bando
coisa imunda de dinheiro e sucesso e corrida e disputa
e farinha pouca meu pirão primeiro
não vem o meteoro e é tanto biscoiteiro
e tanta raiva escorrendo pra dentro, silenciosa
é tanta amargura e postura desonrosa
é inveja e maldade que escorre da boca
de quem erroneamente se pensava amigo...
em vão mitigo com o amor que em mim há
o ódio plantado, que se espalha daninho
mas é nota alta que minha voz não alcança.
E sei que lá vem
o zé mané me dizer que não, que é mimimi que é nhennhennhén
que todo engano tem seu motivo, "deixa pra lá que tu vive bem"
e eu ouvindo o grito seco que não sai
mas por dentro ecoa estourando tímpano,
destruindo o sono
e é abandono o sentimento que vem no meio da tarde
com esse cheiro de veneno no ar
literalmente o cheiro de veneno no ar
"senhora, não podemos fazer nada se a senhora não puder localizar"
e saber do mercúrio na água e das travestis atacadas na noite passada,
sentir o ardor e o lacrimejar
e agradecer severinamente,
pois só levaram o celular.
é dor tanta, e saudade, e frustração...
tem poesia sufocada nesse coração estreito mas
diante de tanto mal que se agiganta
só consigo gritar a tempestade de água e sal
empedrada na minha garganta.