"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Há cura*


naquele dia
o sol sorria beijando as ruas
as árvores as casas
as mariposas nuas
os beija-flores inocentes...
e aquele convite quente
para a abrir as asas
deixou seu coração feliz
sem muita razão.

naquele dia
provisoriamente deixou de lado
a maldade e a solidão dos outros
a hipocrisia e a fome no mundo
o escuro do medo
do inferno, o fundo
despiu tudo que lhe feria
olhou-se no espelho
e pela primeira vez reconheceu
o que queria.

para definir aquele insight
não havia palavras no glossário
gargalhou do sofrimento autoimposto
botou a melhor expressão  no rosto
"há que se inventar novo vocabulário"...
escolheu um vestido estampado
e saiu feliz consigo mesmo
sobre o primeiro salto
para fora do armário. 

*para todos os homofóbicos de plantão, com um beijo. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

In communication

A lua, uma noite dessas, no bairro Murilo Teixeira, Boa Vista.
 Por Elimacuxi. 

"é cada um por si, na sua própria bolha de ar" Tiê
ontem a noite
envolta em sonhos
de medo e prejuízo
dormi profunda
e docemente acolhida

desperto admitindo os vermelhos
e azuis e roxos
dessa estrada

de fato
permita que eu te afete
e sonhe e sonhes
comigo, contigo
colagem de complexa harmonia.

é um lampejo a forma
como em ti
me vejo

como traduzir minha certeza
de que não existe palavra nua?

e viva na lembrança
do seu beijo
a esperança atua:
minha bolha tocou a tua?

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Esvaziar

quando por algo me esgoto
e as mágoas não se absorvem no solo
de tristeza me emboto
e dura e fria vou direto ao outro pólo:

porque sou dupla e entre duplos me esboço
sol que brilha no resto de chuva, na poça,
lembrança de quebrada promessa
seriedade de criança fazendo troça.

e à semana que inicia já pesada
com reunião e falsidade que, no entorno
foi, por quem pensa ser correta, semeada,
entrego o resto do que sou, um resto morno
a física presença, de meu ser esvaziada.

é meu corpo quem me grita meus cansaços
quando a mente se despede e se despende
num tropel raivoso de pensamentos soltos
e nessa hora, ao fim da estrada, busco pouso
e tudo o que desejo é abrir meus braços
pra me perder no vão de braços outros.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Klimt, G. O Abraço. Parte do Friso Stoclet. 1904-08. Áustria.

"Você sabia
que tristeza contagia
e o mundo vai assim
em autofagia
numa espiral profunda
carregando a tudo
com uma energia imunda?"
me disse o sábio
quando perguntei
"por que, sem aparente motivo,
às vezes não me sinto vivo?"

desde então, muitas vezes inutilmente
tento permanecer consciente
da direção a que me leva a corrente...

Por isso hoje coloquei em perspectiva
vou me deixar sentir em carne viva
que doa o que doer, até vir o cansaço
ou uma corrente oposta
que neutralize essa tristeza,
disposta
na energia sincera de um abraço.

domingo, 2 de setembro de 2018

Domingo de tarde

Nicolas Lancret, The Swing (1794)
Indianapolis Museum of Art at Newfields

comida e sol
e folga
e cerveja
deixam a gente
levemente lesa...
tem hora melhor
para ser prato principal
e sobremesa?