"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



domingo, 24 de junho de 2018

Predicados de domingo

Pensamos sobre nós
E pesadas as provas de que somos
Pernósticos,
pervertidos,
preguiçosos
e procrastinandores
Nos percebemos
Mais que um par perfeito:
Puta parzão da porra!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sísifo - de Ticiano. (1549/49). Museu Nacional do Prado.
meu espírito
anda cabisbaixo...
nas telhas, de manhã
a chuva parece
querer tocar um fado.
afasto a cama da goteira
pro outro lado

andei perscrutando
o que está se passando e
descobri porque diabos
o sono tem faltado
está pesado
andar na rua
e ver tudo molhado
cachorro, poça, chão, gente
criança seminua
tudo misturado...

levanto sem ter dormido
afasto a cama pro lado
a chuva parece novamente
querer tocar um fado
e o fato apurado
é que meu coração quer
carregar o mundo
mas está pesado.

domingo, 10 de junho de 2018

Caravaggio: São Jerônimo escrevendo, 1606, 112x157 cm, Galeria Borghese, Itália

nos últimos tempos tenho ouvido uma porção de estetas.
um poeta que me diz que poetas não falam do que é ser poeta,
outro que julga o cânone e, para dele se afastar,
acaba perpetuando-o, por ora como modelo a se evitar
outro, que sem pudor, brada que amor não é tema de que se trate
e aquele que, na entrelinha de sua fala
julga que poeta mesmo é aquele que se cala
aquele que, antes que a vida lhe arrebate, se mate.

fecho-me emimesmada em meu quarto
vaidosa de mim e dos meus defeitos todos
livre e orgulhosa de sê-lo
divagando sobre tantas regras que não quero
outras com que converso
outras que não aceito,
deixo o julgamento pros juízes
e espalho-me feito lama nesse espaço
que é frágil e cheio de deslizes
que não busca nem dispensa
café ou fama
que é construto do amor que vivo
na sala
na rua
muitas vezes na cama.

nos últimos tempos tenho ouvido uma porção de estetas
e para minha imprecisa verve de poeta
penso que eu não preciso
pois que espelho-me em mim 
e só me escrevo
(não porque a mim eu dedique enorme apreço
mas porque construo um possível lago de narciso
e me banho
nos versos que entreteço).


*a maior obra que você será capaz de construir é a si mesmo. 


terça-feira, 5 de junho de 2018

Ines Doujak, Hera, 2008.
Exhibition View CARLONE CONTEMPORARY. Belvedere2018.
photo Johannes Stoll
só e lindamente líquida
me integro ao mundo
me entrego ao mundo
me espalho
cobrindo peles
e páginas.

desincrusto de cada poro
e entrego maduro
o fruto
do profundo
e intestino desejo

amo muito
e a energia de que me despojo
suplanta o medo
escapo ilesa para ser presa
no topo que almejo:

e gozzzzzzo
gozo
goooooooozo.