"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Há gente que ama muito
há gente que ama um pouco
e há gente que ama muito pouco.

Quando eu tenho lágrimas
para alguém
quando penso em perdão
para alguém
quando penso em valor
como amor,
fé,
calor e vida
para alguém,
na minha prece
 - seja pra quem for -
eu primeiro penso e peço
para quem
tem e oferece
muito pouco amor.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Noite feliz


Fez-se presente
de natal
e - sem amor, pudor ou horror - 
entregou-se desembrulhada
ao portador.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ceia de natal

Perfumada
põe vestido
sapato
batom
vermelhos.

E torce
para que a comam 
com os olhos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Árvore genealógica

Geralda
uma mulher branca
fugiu com um índio
tiveram filhos
e não foram felizes para sempre.

Benvinda
uma mulher branca
fugiu com um negro
tiveram filhos
e não foram felizes para sempre.

Wanda e Lucas
filhos de brancas fugidas
fugiram juntos
tiveram filhos
e não foram felizes para sempre.

Eu filha
eu fruto,
admito:
acredito na fugaz
felicidade das fugas
e nas fugas
como felizes finais.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Bandido assassinando uma mulher. Goya, Museu do Prado. 



Raciocinei a semana toda
mastigando ausência e engolindo o nó
espalhada em horas carregadas de mágoa,
desfeita em água
e voltando ao pó.

Um átimo de sua atenção
e com o coração na boca
destruo louca
todos os planos de resistência.


Depois do efêmero gozo
não há pose que me faça
sentir melhor...
Maldita consciência!
A culpa me abraça e corrói:
é pura demência
essa paixão que me dói.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sonho com Alice

pelo céu
nenhum sinal
denunciava
sua queda,
mas a deusa
passeava
por meu lençol
mantendo-me sob açoite.

e o que mais explicaria
esse rastro de sol
iluminando minha noite?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Quando

quando tua mão
e teu silêncio reverente
chegarem a mim,
quando tuas palavras
se alojarem em meu peito
e não houver pensamentos 
nos dividindo no fogo do leito,
a luz da lua
será só luz de lua
e nunca mais me ferirá desse jeito.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Calou-se o poeta
pra olhar a vida
pela fresta
da porta,
a lua
a revelava
nua e quase morta
sob o sorriso ensaiado dos dias:
não havia verdade sentida,
não havia sentido na estrada,
não havia sequer poesia,
aquela luz
desencobria
seu nada.
a lua cheia
de si
me encheu de tudo:
de estar mudo
represando rios
da vida ensaiada
em sorrisos e gestos.

a lua cheia
ateou fogo
nos meus cabelos
e em cada poro
acendeu novos apelos.

hoje míngua a lua
e o desejo é essa íngua renovada...
ao vento do meio-dia
dissipa-se o aroma
de minh'alma moqueada.

domingo, 4 de dezembro de 2011

amor de infância

hoje uma imagem da lembrança
me voltou tão forte e limpa na memória
que senti o mesmo encanto de outrora:

o meu rosto então sentindo o sangue quente
o coração ganhando vida e vindo à boca
a vontade de estar perto, junto, rente
 - toda razão para não sentir, seria pouca.

hoje amanheci pensando nele
hoje amanheci feliz da vida
querendo repetir na minha pele
a emoção há tanto já sentida

e ele me atendeu, que alegria!
respondeu aos meus apelos, que paixão!
novamente solto o grito entredentes:
É CAMPEÃO,
TIMÃO, TIMÃO!

domingo, 27 de novembro de 2011

Há quem confunda a dor que é dor
com a dor cantada
e há quem não suporte o retrado da dor
que observo e pinto...

Mas a questão pela qual não busco o esturpor
nem me faço anestesiada
é singela e cheia de egoísmo:

há visão tão bela
quanto a de um abismo?


Se a flor da beira me rende lirismo,
me rende perfume
e me rende sentido pra vida e o ciúme
buscar essa flor é ser suicida?

Não me assusta sofrer,
romper o coração,
não me assusta cair,
me desespera
é perder a hora e não desejar a beleza mais rara
só por estar presa
ao medo da tristeza
ou à obrigação de sorrir.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

virtual

a vida vazia
a via nua
havia ali
vinho tão vil
tão crua vista...

ávida sorvi
o veneno das luas
e suas veias
entornaram vícios

naquele abraço
 - filho do ócio -
avistei vales
e precipícios...

domingo, 20 de novembro de 2011

queda livre

era cedo
quando olhou pro alto
e saltou no abismo.

deixou o cinismo
e um recado escrito
para niguém ler:

só me deixe
hoje o céu
não está pra peixe.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

há dias sou essa nuvem escura
que ameaça e não chove
que só troveja e comove
cães tomados de loucura

há dias sou prematura
flor debulhada no asfalto

em contínuo sobressalto
insidiosa criatura

há dias me desconheço
como estivesse sem mim
esperando pelo fim
do que nem teve começo

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

promessa para Adahra

Vinde a mim, morena ditosa
e te faço carinho, dou-te um ninho
um perfume, um descanso, uma rosa
poesia, alegria, nova estrada...
tudo o que quiseres
a vida numa madrugada!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

de manhã, na cama
reclama a quarta
por sua cara de segunda

e pela semana
esquartejada.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Insânia em seis atos

I
uma canção de urgência
pôs-me o coração na boca
e o amor em indigência

II
outra canção,
         de distância,
exilou-me da esperança

III
quando as horas bateram trôpegas
alarmes que não tocaram
calaram definitivamente a razão

IV
amanhecera o sábado
sem motivo algum
para ir ou ficar.
 V
fui olhar o rio pra lembrar
que eu também passo
a pressão dos meus presságios sugeriu
- não tenha pressa...

VI
segunda, seguindo
e me afago
e me afogo
no a mar.

domingo, 13 de novembro de 2011

Sombra e sobra - ou sobre ontem

No dia do concílio de feiticeiros,
sagrado judio e de seitas outras,
celebro o sonho.
Mas na quinta,
me subtrai o medo
e a serpente que me sonda
sussurra-me
sibila em meu sono
soçobrando em mim o desejo
espalhando seu veneno de cobra...
eu cedo, envolta em sombras
e me entristeço
como somente pode
quem sabe que sobra:

será que só?
que sou?
que sábado?
e só?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

poeminha para o Éden

ah o paraíso que vejo
precioso e preciso
doce envolto em fumaça...

será que me abraça
que me adota,
me caça? 

sábado, 5 de novembro de 2011

Meninas musas*

I

É doce que não me enjoa
o beijo dessa mandona
pois de tanto se doa
de mim já se fez a dona...
não exige, nem despreza
chega, invade e está feito:
quando vi era posseira
a ocupar o meu peito.
Tudo que há em mim se alegra
ao som da voz da menina
que de alegria e prazer
é a mais explosiva mina.

Quando estou para implodir
e penso que é o fim
em sua pele de marfim
meu veneno ela destila:
o que seria de mim
sem o amor de Narrila?

II
Há ali um ar blasé
de quem já me conhece,
de quem já me prevê.
Naqueles lábios,
entreabertos,
céus e desertos
espreitam incautos...
Eu me rendo
entre rendas e saltos
deliro, tremo e morro
pra renascer e novamente
em seu oásis pedir socorro.

quando a vê,
todo meu corpo se agrada:
amor, você,
minha Adahra...

III

vi
em seus olhos negros
vinhas e viagens
verdadeiras vertigens
vândalos em Roma
veias estouradas

vi
e o que vi
não se engane
tira-me a paz
não vejo nada mais
que Viviane.

* Alegrias minhas, entre nós atadas: Narrila, Adahra e Viviane. Amor. Nós.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

misturo cores
de horror
a notas
saborosas e fartas
de amor

as horas são forcas
as forças são parcas

espremo o coração
viro licor

domingo, 30 de outubro de 2011

meu sumiço

andei calada
coração na garganta
garganta fechada

andei doida
doída
de ódio e tédio

já em cacos
definitivamente implodida
volto às palavras
e à vida.

sábado, 22 de outubro de 2011

dos sentidos da morte e vida*

quando eu morri
há um ano atrás
não sabia de nada mais.

vi o melhor de mim se esvair
vi o melhor de mim se enterrar
vi o melhor de mim desaparecer
e fiquei comigo uma pedra enorme
num sapato de andar milhas.

quando eu morri, há um ano atrás,
enterrei maravilhas.
uma vida inteira de poesia e verso
um universo de fazer-se e refazer-se na troca com o outro
a tocar no eterno...
quando eu morri, há um ano atrás,
reconheci o inferno
a realidade do astronauta,
o nada, o nada
eu era
sem companhia, sem reflexo.

como se irrompesse de minha mãe pela segunda vez,
há um ano atrás
violenta e viva
eu explodia e era a solidão
renascida em estado bruto, puro e original
então saudei ao mundo
com meu choro e a dor aguda
de quem renascia
e, de novo,
nada mais compreendia.

* Para Vavá que me fez crer, por dezesseis anos, que eu não estava perdida no espaço...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

morta viva

tonta
observa em si
seus mortos.
estabelece um trato
com o mal
e queima os portos.
finge não ter medo do contorno do tempo
adiantando-se ao nada.

é noite
em pedaços solitários
espalhados pelo quarto
ela chora convulsiva
sabendo-se tão morta
quanto viva.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

porque hoje é sexta...

o fraco
inveja o vadio
que forte
fartou-se da farda
furtou-se ao trabalho
e foi visto feliz
fervilhando
na maior fuleragem.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Falso brilhante?

disponível em http://desvendandominhaalma.blogspot.com/2011/04/minha-mascara.

Quero romper esse cristal
quebrar o padrão
elaborado no curso
de educação sentimental com duração de 38 anos.
Quero outros planos
divergir dos filmes e canções de amor
que falam de dores e suores e tremores
e valores que meu peito
já não quer saber de cor.
Quero inventar um jeito
de viver a paixão alucinada
sem depois me espalhar pela estrada
espedaçada,
pedregulho,
menor.

Então pergunto, meu amigo:
você vem comigo
pra ver se eu consigo?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Não mudo:
amiúde
amo muito.
O mundo muda
e ando muda
medindo minha
inadequação.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

calçada com meias palavras

sou ouvidos
o que ouço me altera
a libido e a razão
o que não ouço dá espaço
a vozes outras
que me doem mais que um não
por isso,
também sou boca
e falo sempre
falo muito
mesmo que seja pra dizer que não
queria ter dito o que disse,
mesmo que seja pra dizer que não
estou indo,
mesmo que seja pra dizer que não
acabou.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

em desalinho

quando a tristeza me cala
me cubro de impressões dormentes
invento adeus, ignoro deuses,

cerro os dentes...

quando a tristeza me cala
arrumo a mala
pra partir de mim e do que mais me afete.

quando a tristeza me cala
desarrumo a sala
e jogo o lixo para cima do tapete.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

manual

mãos
faço delas o instrumento pra que meu amor se revele,
muito as uso
em cabelos e onde houver pele
abro picadas e trilhas
nos entres, virilhas
espalho-me feito chuva
por joelhos e cotovelos
peles fazendo-se luva.

minhas mãos amam mais que eu
por isso, dos braços em que pendem,
construo sem hesitar
casas que não se vendem
e exclusivos portos de se ancorar.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

abrindo o jogo

Haja hoje no meio de tanto ontem
e fumaça de amanhã.
Que essa sexta seja santa
e serei sua,
se quiseres
(que o que se sua à noite
são amperes pr'outro dia...)
santa seja essa energia
de que em ti me recarrego.

Haja hoje novamente...
eu me rendo e me entrego.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

último ato

quando sobre mim
deixou-se cair
aquele perfume materializado carne,
expirando em meu pescoço
de tal forma delicada
de tal forma displicente
tão inquieto e tão silente,
meu coração tambor
espalhado dos pés à cabeça
não se quedou espantado:
aquilo seria amor
não fosse apenas
teu desejo sublimado.

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro

Esta data não me toca mais que outra data
 - conheço um pouco de história,
e talvez por isso
minha emoção a esse dia ignora.


o silêncio e a reverência
por vítimas de violência
imperam em mim
todos os dias da minha vida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futuro Blue*

Sorte daquele
que de amor já foi
doador e pedinte
e mesmo aos quarenta
não se acovarda e ama
como tivesse vinte.

* para um amigo desorientado.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Comemoração

Já tenho
cento e trinta e nove olhos
voltados pra dentro
e comendo por gosto
minha carne e minha alma.

domingo, 4 de setembro de 2011




a lua alta
vinho e Piazzola
em tempos de alma
e alegria estreita
compuseram
a noite perfeita

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Para minhas mães

Rebeca, menina
sapeca, boneca, moleca
seriam só rimas...
ela é um tom acima.

Helena é um poema à pena
como pode, tão serena
ser terrena?

E Clarisse,
essa que tão cedo
um não me disse,
me ensinando
que a sandice de mãe ser
não seria só doce...

Sobre acertos e enganos
o tempo nos vigia feito um monge
há vinte anos.
E a cada dia elas são
a história mais bonita
por nós escrita e reescrita
a tantas mãos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

as passarinhas

 imagem de Weslei disponível em http://olhares.uol.com.br/tres_passarinhos_cantando_musicas_doces_foto2863838.html

tão magrinhas
inteligentezinhas
caladinhas
companheirinhas
e alegrinhas
destruindo
meus desenganos
elas passam
 - as passarinhas -
há vinte anos...

sábado, 27 de agosto de 2011

exangue

imagem: http://fottus.com/lugares/marte-o-planeta-vermelho/

acordo rio
vertendo-me líquida.
O sábado e o sol
não fazem sentido
a não ser por comporem
com o vermelho que me jorra da boca
a estopa que me estanca.
acordo rio
e nada me encanta.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ilusória

EU,
luz de constelações inteiras
diante de um universo ofuscado.
Tudo em mim exacerba e brilha,
e em mais nada
tal maravilha transparece.
Ser melhor
é o bom mal de que meu ser padece.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ardilosa

queima em mim um verão ameno
e há menos espaço e sonho
no que sou
tudo é pequeno!

no outro
tudo exacerba e brilha
no outro a maravilha transparece
enquanto, ardilosa,
ela me aquece...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Seca

em silêncio
não olhou em volta
não tocou nos móveis
nem sorriu

não deixaria
palavra
atenção ou sorriso
não doaria
nada de si

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

insana

por ela ama-se
o amargo
e o ácido
o sal e o mel
por ela engulo
até o insípido
e o resíduo no papel...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

furiosa

pêlos, pés
saliva suave
abraços, cicios...
bocas e seios,
explodem a pele
com curtos pavios.

sábado, 13 de agosto de 2011

sorrateira

quebrando o silêncio
ela sussurra
assobia
me assiste e me açoita.
poderia sentir serenamente
sua presença
mas deixo disso...


a preguiça
sossobra cada osso
embebendo-me
em puro ócio.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Cedo ou tarde
o dia cai com tudo.
Como curar o olhar mudo,
o corpo amuado,
essa ressaca?

Desta feita
não terei medo da antiga receita
e com a água dessa chuva
lavo minha neurose:
 - ei rapaz,
traz mais uma dose?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ok
queria mesmo escrever pra você
um verso sem dor nem porquê
uma carta de recomendação,
manual de instrução pra o que eu viesse a ser
se ao lado seu houvesse
um lugar pra paz.

Distância não me apraz, rapaz...
e então é isso:
não espero mais.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Não

você, é certo, não sabe

da máscara que me cabe,
se quero viver a vida
ou desejo que se acabe...

não sabe um verso, não dança
e quando canta, é mal
da missa não sabe um terço
como pode ser meu sal?

nunca enfrentastes o lago
sob a fúria da ressaca
de mim, o que saberia
além da cor da casaca?

não se desmancha em carinho
nem sabe um conto de horror...
então é definitivo:
você não sabe o caminho,
não tem a senha de cor!

domingo, 7 de agosto de 2011

quando amanheço enluarada
a claridade refletida no espelho
me cega
então, 
tateio em vão as horas quentes
do dia
absorta num oceano de sensações desencontradas.

e me surpreendo
pois nesses dias obscuros
do lado de fora
o que se vê
é só brilho.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Disponível em http://ultradownloads.uol.com.br/papel-de-parede/Briga-de-Aves/

Em uma esquina de mim
se encontraram duas inimigas.

Tentei,  em vão, não ouvir sua briga
mas a violência das duas
 - que findaram toscas e nuas - 
me assombrou sobremaneira
         a noite inteira!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

meu drão...

é, Erasmo...
desde eras remotas,
há sóis erramos!
aramos o campo
matamos a hera
cultivamos amor árido
arautos de dor e caos.
nem hereges, nem heróis
éramos nós
e noz.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

sem choro nem vela

amadureça amara amora
não me venha agora!
não cabe o mar...

(moer o coração
espalhar-se  láctea
em miríade
de pedaços.)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sereia. disponível em http://www.simplonpc.co.uk/Con​stellation2007_Copenhagen/Merm​aid_070816-178_b.jpg

calma
em cada poro ela canta
a canção de um só intento:
todo o corpo e sentimento
do menino que a observa,
sem ressalva
nem reserva.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Julho, 22

'Visão do paraíso'. 
Cidade Universitária, julho/2011. Foto de Elimacuxi.

Antes voasse
mas vou à deriva
nesse mar.
Confundido entre folhas e falhas
o coração trabalha.

Amuada
volto, passo a passo,
a equilibrar o corpo
sobre a murada de hera.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

vôo livre

Já se forma o temporal
além, no entre do coração
maravilhado pela incidência
e estranhamento dessa nova e
solidária reminiscência.

Antes, porém, em
nada o re-sentia
dele apenas lembrança parca
roçava a pele
e outros desejos espraiavam-se lentos.

A vida real é
gozada com desprezo
universal,
ícones dispersos,
rancores,
raivas
e eu.

Feito folha seca, alcei meus vôos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

desorientação

Seria apenas saudade?
maldade das coincidências
um perfume invadiu o quarto
trazendo passado remoto
e enchendo-o de reticências...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

para Chesca

E se eu fizesse um poema
com as palavras de ti roubadas?
seriam os versos macios
feito tua pele enevada,
seria feito o teu peito
cada estrofe ritmada...

E se em vez das palavras
outra coisa eu roubasse
e teus lábios eu calasse
com outro furto sincero?
ah menina doce da pele enevada
antes fosse o que ainda quero!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Da paixão na metrópole


Febre intermitente
Espasmos abdominais
Peito apertado
Pernas que não obedecem.
Entre buscar o doutor ou o garçom
Teve um último momento de loucura
Foi assim que terminou
na própria poça de sangue
sem dor nem amor
nem nada.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

meu fanatismo religioso

Odeio contratos, prefiro as dores
odeio amores de contadores
amores descrentes, burocráticos, organizados
amores de ligue não que eu também não ligo
"amores de amigo".

Será que é o mundo mesmo assim?
Ninguém mais a fim de ir ao fundo
afogados no imenso e imundo a-mar,
fugitivos do profundo da paixão?

Faz-me falta a loucura barata de pó sem pó
paixão que afaga e afoga a dúvida
paixão-crença em si, espelhado no outro,
paixão-poder de dar nó no destino.
Onde agora o encher-se de ser, o ser grande e conter o mundo:
velho-menino, santa-meretriz?
Fanática, nunca me farto da paixão-fé de criar começos
acreditando piamente em final feliz.

sábado, 2 de julho de 2011


Mulher com pandeiro - Óleo sobre tela. Marcio Camargo (www.marciocamargo.com.br)

Quando me apaixono
esse ar de abandono me toma a cara
cão sem dono, fala amara,
não tenho mais sono
não quero comida.

O desejo
me escancara pra vida.