"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



segunda-feira, 25 de março de 2013

Hoje

quando o sol assim invade
a janela do meu quarto
e me açoda para a vida
 - sem saber se me interessa -
comovida levanto-me sem pressa
cheia de covardia
e pela preguiça, infunda...

não é que odeie esse dia
 - mas hoje, especialmente,
eu pularia a segunda.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Quase livre

entre cruzes e espadas
entre gritos e guitarras
entre terras e tremores
entre o verbo e seus amores
entre o crime e o inocente
entre a conta e o contente
entre encanto e um canto à toa...
por entre fendas, fios e fundos
inventando novos mundos
com poesia
minha alma voa.

sábado, 16 de março de 2013

Feliz e mais nada




















Imagem gentilmente cedida por Andrea  Cordeiro, bonequeira na empresa A casca da Cigarra.

eu corro por aí
meio rei, meio não sei
cheio de fastio
um seco rio

eu ando por aí
rei destronado
escravo de mim
desorientado

me arrasto por aí
sem desespero nem pressa
pra quem não está perdido
o caminho pouco interessa

e por aí não me encontram
nem tremor nem medo
faço da vida somente
meu melhor brinquedo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Velho Lucas*
















Assim que por gente me entendi
por sua causa acreditei
que namorava um bem-te-vi
e pelo amor me apaixonei.

Você tirou meus dentes de leite
e dizia à 'sua menina'
que deveria jogá-los no telhado
declamando uma rima...

Foi você quem me ensinou
a ouvir música pela letra
a desenhar letra pra fazer o nome
e a decifrar letra pra entender o Pato Donald.

Quantas vezes cortou minha franja?
Quantas vezes fingiu brincar de manja?
Quantas vezes me fez ler um mapa?
Quantas vezes me educou no tapa?

Num doze de março você veio ao mundo
sem saber como seria profundo
o sulco na alma da filha mais velha
que tanto temeu ver analfabeta.

Acho que deu certo, meu velho pai
você atingiu sua meta...
e a ninguém, mais do que a você,
responsabilizo hoje 
por eu pretender ser poeta.


*que completaria setenta anos em 12/03/2013.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ser mulher


Para piorar meu desprezo
pelo dia e a vazia retórica
meu corpo argumenta com o peso
persuasivo da cólica.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Sem medo

as horas
vão deslizar suaves pela pele
como beijos mornos e sutis
e se abolirá a vertigem dos dias
num desejo pintado a giz

nenhum encanto ou desespero
para se guardar na lama da alma
nem gosto nem gesto nem cisco nem susto
tudo tranquilo, nem pedra, nem ar

imagino assim, isso de não ter corpo
e ainda que não anseie
não temo o estar morto.