elimacuxi, 2014. |
Primeiro, chuvisco:
molha aqui, ali não molha
devagar e persistente
umedecendo a terra, preparando semente
e então,
clarão intermitente alumiando
esporádicos detalhes não vistos
de há muito tempo quistos, tão fortemente quistos...
é ilusão? questiona meio assustado,
sob o estrondo do trovão,
o peito desassossegado
aí desaba o aguaceiro
torrencialmente sob os poros
os pelos, a pele em toda a extensão
os zelos, as culpas, os receios ocultados nos recônditos
cada ínfimo detalhe, cada momento do dia,
cada ideia projetada
e cada recordação.
E pouco importa nesse momento
que a erosão seja sua mais certa consequência
esqueço que a mim, cedo ou tarde
ferirá a tempestade
e me redescubro, senhora das águas,
sem medo ou reserva,
uma oxum apaixonada.
e porque sei que minha seca e velha alma
foi feita pra ser inundada
e essa enxurrada que me leva e lava
é o combustível que à vida me move
estou certa de que não será a última vez
que inconsequente e livre
fico feliz porque novamente chove.