"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Trauma

ciclos, elimacuxi, 2020. 


Aceito todas as medidas de proteção
aceito o que diz a ciência
aceito esses dias de maldição
sem afagos, sem abraços
com redobrada angústia e preocupação.
Aceito, sem paz, o isolamento
acato obediente que cada dia se torne mais lento
e a vida vá se ajustando 
entre o nada e o sofrimento
de saber das partidas sem volta
de conhecidos, de colegas, de amigos.

Pouco a pouco, meio louco
me acostumo 
com esse novo não-caminho.
 
mas mesmo que vivo eu me mascare
e conviva com uma multidão de mascarados
mesmo que a máscara me ampare
da imagem das bocas retorcidas em desagrado
mesmo que se ignore a agonia
e que o mundo todo se mascare, enfim,
sinto que não conseguirei mascarar
o que essa vida de pandemia
tem escancarado em mim:

sem palavras e sem vontade
poeta ensaia seu fim. 


(escrito em junho de 2021)


2 comentários:

Edgar Borges disse...

Uma ameaça rimada nesse último verso... Segura a onda que já já voltamos ao normal.

Andréia Dacorégio disse...

Dolorasamente lindo!