ciclos, elimacuxi, 2020.
Aceito todas as medidas de proteção
aceito o que diz a ciência
aceito esses dias de maldição
sem afagos, sem abraços
com redobrada angústia e preocupação.
Aceito, sem paz, o isolamento
acato obediente que cada dia se torne mais lento
e a vida vá se ajustando
entre o nada e o sofrimento
de saber das partidas sem volta
de conhecidos, de colegas, de amigos.
Pouco a pouco, meio louco
me acostumo
com esse novo não-caminho.
mas mesmo que vivo eu me mascare
e conviva com uma multidão de mascarados
mesmo que a máscara me ampare
da imagem das bocas retorcidas em desagrado
mesmo que se ignore a agonia
e que o mundo todo se mascare, enfim,
sinto que não conseguirei mascarar
o que essa vida de pandemia
tem escancarado em mim:
sem palavras e sem vontade
poeta ensaia seu fim.
(escrito em junho de 2021)
Uma ameaça rimada nesse último verso... Segura a onda que já já voltamos ao normal.
ResponderExcluirDolorasamente lindo!
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