domingo, 3 de outubro de 2021

Despeda(bra)ço*

Vivos, três, de pé 
sob o sol, domingo, manhã
de pé, três, vivos
coração pulsando no limite da pele,
no limite do mundo
três corpos de pé, vivos
respiram o céu azul, respiram a luz solar, 
respiram a poeira que o vento insiste em levantar.

Por trás das máscaras, três vivos, de pé
estacam por instantes na calçada
suspendidos e intensos 
no vácuo do impossível abraço.

E sabem do que lhes cerra o peito,
sem fiança de afeto, a faca cega que lhes serra o peito
e que o gesto paralisa e nega
mas é o jeito
e se olham, se falam: 
os livros, a amoreira,
é domingo, é cedo
há tarefas, há olheiras e olhos marejados, 
os medos estão vivos
e os três de pé, par e passo
vivos.

E só poderia ser aos pedaços
que eu conteria na pele 
a força, o peso, o volume
daquele impossível abraço. 

*Para Zanny e Edgar. 

2 comentários:

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