"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quinta-feira, 3 de março de 2011

De escrever

Semeio e colho no campo cheio
de palavras.
Cavo com as mãos
buscando dourado termo.
Espero que o lento fogo do tempo amacie
as duras expressões.
E depois de afogar vocábulos em água e sabão,
torcidos os penduro, enfileirados,
num verso varal.

Ensimesmada
construo-me na tela branca
completando com riscos pretos
o vazio à frente do cursor que pisca.

Trabalhadora
lavro, garimpo, cozinho, lavo
alijo-me do resto alojada nesta lida
bucando em mim
matreira caça que, abatida
tem exposta a própria carne.

Gota a gota
levo a cabo a trapaça que esgota a dor
e engasto na jóia a preciosa pedra que equilibra
vida e arte.
Precária existência compondo uma história:
minha intensa e exibida miséria.

3 comentários:

Felipe Veras disse...

Poesia de alta qualidade e sentimento. Eu adorei de verdade como você se projeta atrás das palavras. parabéns por isso também, eterna professora!

Rubens da Cunha disse...

nossa intensa e exibida miséria exposta no teu poema...

abraços

Cora disse...

escrever é um trabalho árduo as vezes. Mas necessário, né?
Fico aqui "ensimesmada"
porque se a gente não lavar, passar e escrever... como vamos nos vestir?