Ontem eu fiz um teste de uma revista. Um teste que seria da UCLA (EUA) e que mede o grau de solidão das pessoas. Adivinha?
O maldito me diz que sou "uma pessoa solitária que provavelmente está consciente da situação"...
Ser ou estar solitário é ter a sensação mais ou menos permanente de não entrar em conexão com outro ser humano. De não ser compreendido, de não pertencer ao mundo dos outros. Ou de que os outros não pertencem ao nosso mundo.
Daí que não aceitei o resultado: Eu solitária?
E a legião de amigos espalhados em tantos lugares do mundo?
E os nove irmãos? Os tantos alunos? A tríade de filhas? Os leitores do blog?
Ah, os leitores silenciosos do blog...
Hoje, quando vim escrever aqui, não pude deixar de lembrar do teste.
A experiência virtual é algo muito expressivo da solidão. Veja esse blog. Comecei-o em 2008, duvidando que seria legal. Deixei-o às moscas. Daí recebi cobranças para atualizá-lo, cobranças de leitores insuspeitos até então! O tempo passou, peguei gosto pela exibição da minha miséria, das minhas palavras, dos códigos para dizer ao mundo: "eu caí", "estou bem", "hoje chorei", "dormi mal", "quero isso/ ou você"...
Os textos se amontoam, assim como as visitas que identifico pelas estatísticas do blog, constrastando com a raridade dos comentários ao fim de cada poema...
Assim percebi o que o teste poderia querer dizer. Já escrevi aqui sobre isso, mas nunca de forma tão explícita. Não sinto falta de conexão com pessoas todo o tempo da minha vida, mas se há um espaço privilegiado para que esse sentimento se instale, esse espaço é virtual, afinal, quanta solidão me impõem, os leitores desse blog, ainda que eu saiba de suas visitas silenciosas?
Já questionei o que querem ver os visitantes, já resmunguei sobre a exposição de minha carne viva e crua... E daí? Esses espasmos solitários dizem respeito a quem? Me exponho porque quero. Pelo mesmo motivo que Drummond enumerava: meu coração é pequeno, nele não cabem todas as coisas, nem eu mesma caibo nele... é por isso que existe esse blog...
Você que passa silencioso por aqui: Eu sei que vens. E isso é o grande barato desse jogo de mostra esconde que me faz uma "solitária consciente da situação". Sua visita, leitor calado, é uma honra, e dá sentido à existência desse espaço. E graças ao teste da revista, não vou mais me lamentar pelo seu silêncio: é a mim que diz respeito a sensação de não pertencer. Na real, no entanto, tenho que admitir que não grito pra ninguém ouvir. As estatísticas apontam: você está aí... e mesmo que ninguém diga mais nada, sua visita certifica o inegável: aqui, eu não estou sozinha.
"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.
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6 comentários:
PQP, Eli!!!!!!
Você já ouviu falar
em solidão solidária?
já ouviu dizer o umbigo
que quase não tem amigo
- O âmago é mais embaixo?
Já se perguntou - a modos
de Raul- onde é que me encaixo?
já pensou na miséria
das nossas canduras?
e nas suturas da ausência?
Na demência dos abstratos
e nos outros tratos?
Eu não penso
logo existo.
Mibi querido
eu estranho o pqp escrito, porque sem a entonação correta, como saber o que ele quer dizer????
e já que perguntaste
eu já ouvi falar de
"solidão a dois, de dia,
faz calor depois faz frio"
já pedi pro mundo parar pra eu descer
pensei em todas essas maledicências da vida
em lamber e não lamber ferida
em tudo isso penso
logo, insisto
rasgo o coração
na praça
que achem ou não achem graça
o que quero é reação...
ei, não fique triste, o meu pqp foi de espanto, angústia, consternação, idiotice, mais espanto, cumplicidade, e um pouco, mas um pouquinho só de inveja de quem escreve tão lindo...
Miba, não foi tisteza, foi curiosidade...
Valeu a longa explicação.
E se o texto provocou "espanto, angústia, consternação, idiotice, mais espanto, cumplicidade, e inveja", ainda que seja só um pouquinho de cada, já valeu tê-lo publicado.
beijo!
Pelo menos o meu silêncio tem a justificativa de não saber o que falar. Dizer que "ótimo", que "lindo" ou "identifico-me" parecem nunca alcançar algo que expresse o que sinto ao ler teus poemas.
Discutir História do Brasil nas maratonas é tão mais fácil.
Por isso cá estou, sempre no silêncio te acompanhando.
Presente!
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