"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



segunda-feira, 24 de março de 2014

Sem feliz aniversário*

olha
voltou a chover na cidade
não deve mais ter labareda dançando no campo
e o rio logo cobrirá a praia.

olha
talvez a temperatura caia...
com a telha transparente a cozinha ficou mais clara
e logo os mosquitos invadirão tudo.

olha
sinto falta dos meninos, 
o carro precisa de reparos
e na Universidade tenho mais horas de estudo...

olha
tem tanta coisa pequena
dessas que se amontoam pra compor a vida
e se pudesse você me perguntaria
sem interromper a lida
- e daí, minha dramática?

hoje entristeço e sorumbática
já sei de tudo
quando miro pra dentro 
teu olhar me mostra a mim.

noite de vinte e três de março
a chuva voltou!
se tudo retorna
por que você não renasce?

o dia seguinte me atesta que é drama a vida que permanece
 - pudesse eu e me extirpava o calendário - 
antes nunca mais essa dor, o desvario,
o retorno vazio e sem festa 
do teu aniversário.


*para Vavá, que ao menos dentro de mim aniversaria de novo.

4 comentários:

Nayane disse...

Uma lágrima valem mais que mil palavras... Ela rolou...

Unknown disse...


que certeza tem o poeta?
que sentindo deve seguir?
(sentido não sendo a meta,
é um caminho pra sentir.)
poesia não precisa de certeza,
aliás, um poema dá à dúvida
muito mais clareza.
notas a beleza brotando da tristeza?

ass r. mebs

Nayane disse...

Uma lágrima valem mais que mil palavras... Ela rolou...

Anônimo disse...

Não sou poeta...mas gosto de poesia.
As suas me fazem sentir como se você estivesse virando-se pelo avesso, abrindo caminho, através das palavras, para se libertar da carne opressora que enjaula o espírito.
Lendo "Sem feliz aniversário", lembrei de uma poesia que gostou muito de Drummond, e dedico a você:

Ausência
Carlos Drummond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.