"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A cara do vento bate na minha cara


Sino do vento da porta da frente.
 Imagem, elimacuxi.



o dia mal aclara
e a cara do vento, descaradamente fofoqueira
convida as folhas prum leva-e-traz,
passeia levantando seus fãs na poeira
irritando narizes, 
cerrando olhos, removendo quipás
com seu chicote e suas cicatrizes.

A cara do vento é meio mãe, meio capataz.

A cara do vento escancarou o dia
disputando com o sol a manhã modorrenta
acordou os capazes de ouvir a poesia 
que em suas costas carrega e sustenta
em pétala e sangue, me trouxe notícias,
de quem, pelo mundo, a vida aferventa.

A cara do vento rompeu num aviso:
se derrubou pontes ou ergueu marés,
se destelhou casas, derrubou granizo
e se rompeu a carne presa nas galés
tudo era passado, no agora presente
estava disposta a novo julgamento - 
faz cantar o sino da porta da frente
em perdão contínuo de contentamento.

E como a verdade que se escancara 
é que meu juízo à natureza não altera
a cara do vento deu na minha cara
suave e certeira,
como uma quimera. 






2 comentários:

Marcelo Camacho disse...

❤️

Edgar Borges disse...

E como dizia Heródoto: um tapinha do vento não dói, um tapinha não dói.