"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quinta-feira, 9 de março de 2017

Entre o fazer, o ter, o ser.

Detalhe de tumba do século XIX em Santarém, PA.
Eu sou do tipo que quer beijo de língua às três da tarde da quarta-feira
que põe poesia na vida, sem hora, a vida inteira
carinhosa carente,
que de carinho carece e dele se faz exigente
hedonista, não sei, mas gosto e quem não gosta de prazer?

na curva dos enta, sou a que tenta mudar
hoje estou cansada de tanta obrigação de fazer
e fazer
e fazer
e fazer
sim, posso e até quero fazer,
mas entre isso quero, sobretudo, ser
porque é preciso ser pra fazer história
quero ser mãe que acolhe e cuida no meio da madrugada
sem pensar no dia que vem e nas correções dos trabalhos e na entrega das notas
e em mais nada
porque uma filha, irmã, amiga precisa de mim no agora.
Quero ser professora que dá bronca e chance, mas nunca ignora,
quero ser aquela que abraça, recorda, aparece do nada,
a que adota o gato resgatado na estrada,
quero ser filha que manda o dinheiro necessário
sem pestanejar ou pensar na outra prestação
e quero ser a namorada que troca mensagem no meio da reunião...
Quero ser presente para quem está presente na minha vida
porque o poder mais transformador é o amor e a lida
as tarefas, as dores, as feridas e todas as coisas mais
se vão numa virada de destino
numa curva mal feita, na reação a um remédio,
pela arma na mão de um menino,
pelo safanão do homem que se pensava amar,
pela queda besta no banheiro,
pelo coração que decidiu parar,
pelo sangramento que não se pôde evitar,
pela tentativa bem sucedida
que fez da partida não desejada
um adeus completo...
Penso nisso, respiro, me aquieto...
Quero ficar aqui e ser
e há nesse desejo, eu sei, muito de ego
a ideia de permanecer plantada, por carinho
por intenção e por gesto,
em quem por mim foi amado ou amada...
Por isso o desejo de presença, por isso a crença
de que é necessário é preciso é urgente
dizer eu te amo a quem eu amo e estar presente
numa mensagem, num abraço, num olhar.
Sou desse tipo
estou desse tipo
e nada tem me convencido
de que é necessário mudar.

2 comentários:

Sheila Campos disse...

Das tuas lindezas que leem minha mente e coração. Grata.

Sheila Campos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.