"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 20 de julho de 2016

Triste crônica da nossa derrota em Vitória.

Eu não queria escrever esse texto que lê em nossos corpos essa culpa antiquissimamente plantada, nosso direito de simplesmente ser, abortado.

No dia em que livre e deliberadamente decidimos que não íamos cumprir, por algumas horas, as tarefas pre-estabelecidas para a manhã ,eu queria falar das nossas escolhas, do nosso livre passear, das descobertas pelas ruas de Vitória, da arte nas paredes e dentro de nós. Da nossa decisão de seguir à esquerda, para o Lago Azul e deixar o Mirador da Floresta, à direita, pra depois.

Nem era tudo alegria o que eu queria. Eu queria escrever um poema sobre o absurdo de extinguir onças para construir onças de pedra. Falar dos micos se equilibrando nos fios de eletricidade. Queria falar da felicidade daquele exercício de autonomia e liberdade ao qual estávamos entregues, com meu peito arfando, cansado e consciente da respiração, na subida do morro.

Mas surgiram homens. Primeiro um, parado, nos mirando. Depois outro. E outro. E nos tomou a lembrança, a sombra assustadora dos corpos femininos dilacerados, das vidas destruídas, dos montes de vítimas no rastro violento de homens e homens e homens que subjugam mulheres por serem mulheres.

E silenciosamente nos vimos, as três, em pânico. E saímos dali, o mais rápido que pudemos, lamentando a liberdade que não temos somente porque somos mulheres.

Para Evelly e Elen, que comigo fugiram da Gruta da Onça

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