se reconfigura e permanece
fragmentado
pedaços de outras vidas se mesclam
no eu agora incorporado
nada é puro
todo sentimento é copiado
cantando porque o instante existe
apesar da respiração difícil
vendo a vida besta,
meu deus
tanta perna seguindo no bonde
e esquecida
a doçura do correio entre amigos.
sem pneumotórax possível
a felicidade oscila
mas a alegria
ainda parece ser melhor
que a tristeza
então meu coração reza
na insistência de outras práticas
lendo o tempo, que ainda me pega à força,
arranco a filosofia entranhada
nas tarefas domésticas
como quem limpa peixes
como quem limpa peixes
salga carnes
prepara caldos
faço poesia.
faço poesia.
hoje acordei cópia
e no meio de mim jazia
uma pedra
sem tradução possível de parte a parte
era uma palavra presa,
empedrada, suja
e sem possibilidade de limpeza.
*pelas palavras de Cecília Meireles, Viviane Mosé, Adélia Prado, Elisa Lucinda, Bandeira, Drummond, Vinícius, e Gullar. Não necessariamente nessa ordem.
7 comentários:
Gosto da tua forma de extrair as palavras do silêncio. uma tradução muito íntima que aflora na pele de muita gente.
Sentimento que traduz nossos últimos dias
Confidência o momento que estamos vivenciando, de maneira muito íntimida, e a mesmo tempo com subjetividade, abrindo espaço para as múltiplas reinterpretação. Tá lindo!!!
Gostei muito! (vc está bem?)
Todos os dias sigamos esse desafio: de extrair a poesia entre a rotina diária é os conflitos existenciais e de identidade, que nessa época de pandemia, insiste a nos retaliar, entre a positividade dos pequenos atos diários familiares e a zuada da população que insiste em quebrar o isolamento.
Olha que sorte a minha. Sua poesia chega até mim logo ao acordar. Logo hoje, que sonhei com professor Devair. Obrigada, Eli.
Gente, muita gratidão por seus comentários. Seguimos.
Um beijo a cada um.
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