"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

elimacuxi, 2014. 

Primeiro, chuvisco:
molha aqui, ali não molha
devagar e persistente
umedecendo a terra, preparando semente

e então, 
clarão intermitente alumiando 
esporádicos detalhes não vistos
de há muito tempo quistos, tão fortemente quistos...
é ilusão? questiona meio assustado, 
sob o estrondo do trovão,
o peito desassossegado

aí desaba o aguaceiro
torrencialmente sob os poros
os pelos, a pele em toda a extensão
os zelos, as culpas, os receios ocultados nos recônditos
cada ínfimo detalhe, cada momento do dia, 
cada ideia projetada
e cada recordação.

E pouco importa nesse momento 
que a erosão seja sua mais certa consequência
esqueço que a mim, cedo ou tarde
ferirá a tempestade 
e me redescubro, senhora das águas, 
sem medo ou reserva, 
uma oxum apaixonada. 

e porque sei que minha seca e velha alma
foi feita pra ser inundada
e essa enxurrada que me leva e lava
é o combustível que à vida me move
estou certa de que não será a última vez 
que inconsequente e livre
fico feliz porque novamente chove. 

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