Turner, W. Vapor sob tempestade de neve. 1842. Tate Gallery, Londres. |
eu à deriva
as ondas são pessoas ao redor
muitas
ondas
por vezes um vento sopra ao longe
uma moça grita e tenho a ilusão de companhia
alguma
alguma embarcação se aproxima?
ninguém se aproxima
coisa nenhuma
o navio se afasta em busca de seu irmão
sou deixada ali,
e não precisa explicação.
naufrago na chocante realidade
da solidão acompanhada
a completa descomunhão
descomunicação
conflito tempestuoso pelo destrinchar
de más palavras
ele se afasta
observo e inventario os danos
respiro mas piora:
não há engano.
mantenho-me fixa nos calcanhares
nada mais do que o vácuo negro
do palco futuro me olha
o ruído ao redor torna todas as coisas
todas as coisas
todas
inaudíveis
eu digo
eu grito
mas não haverá embarque
o vulto se afasta
e se perde,
desfeito vira ilusão
no horizonte.
eu à deriva
tomada da realidade que me traga
as ondas são pessoas ao redor
não há engano
é dano sobre dano sobre dano
e lentamente meu coração naufraga.
Um comentário:
Senti uma pontada, um aperto...
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