sexta-feira, 27 de abril de 2012

poema pra minha gata

eu mereço
essa gata no meu pé
arrasando os meus planos
de estar sozinha
e é quase minha
Lis, Bella
essa mistura de gente e bicho
que parece me ler numa olhada
que me arranha e me deixa desmanchada
de amor e carinho
eu mereço
que ela faça do meu cabelo
o seu ninho
que ela encontre no meu colo
o refúgio
que ela fique comigo
enquanto, do resto do mundo,
eu fujo.  

quarta-feira, 25 de abril de 2012

espinha na garganta,
pedra no sapato!
hoje ele está aqui desde cedo
assombrando
mas não sai,
o recalcado quer me torturar
me alcançar com sua lança
e se fazer trejeito
hoje ele está aqui desde cedo
mas não quer vir ao mundo
o poema perfeito
silencioso
só quer se abrigar
no meu peito.


pra onde o mundo vai

não começou com um olhar
ou um sorriso,
foi fumaça no momento preciso
soprada quente na minha boca
foi o escuro e o guiamento
a noite vadia, a vida vazia,
o alumbramento de estar louca
e da febre não ser pouca...

não começou com olhar nem sorriso
foi guizo de destino
coisa de menino perdido no shopping center
brinquedo sem pressa,
folguedo de praça
alegria sem preço.

agora que segue
não sei para onde

e dentro de mim
esse amor sem fim
se esconde.

domingo, 22 de abril de 2012

Reforma Elétrica

Não quero mais circular
provocando curtos circuitos:
cansei da fuga de energia
e dos maus contatos.



sexta-feira, 20 de abril de 2012

A vida é putrefata experiência
a vida em essência
é feita pra gastar
Limpeza e saúde em excesso
não expressam
grande saber...

Prefiro o vício
o ácido, o ócio
por saber:
estamos vivos
pra morrer.


*feito em resposta ao poema de Jaime Brasil Filho. Valeu pelo mote!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

poema pra minha namorada

minha menina
me leva por caminhos incertos
mas mantém meus olhos abertos

espero que ela registre por mim
e melhor 
a cor de tudo

nesse acordo
ela é meu exercício
sobre o precipício
do estudo

minha menina me ajuda
a dizer o que quero
quando mudo...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

proposta pra bela e pra fera*


eu, hein?
poesia é minha moeda de troca
é a senha que me desentoca
quero mais palavra no meu ouvido
e barulhentos
nos perdemos no olvido.
Quando não dá, faço a moderna:
levo a moeda
a passear na taberna
aceito quem me abraça
bebo o vinho, quebro a taça
e finjo que não sei
quem quebrou o espelho.

com luxuriosa inveja
de longe observo vocês
e vem o desejo velho:
que tal fazermos a três?


* em resposta a Isabella Bela e Roberto Mibielli.

domingo, 15 de abril de 2012

Meu peito aperta
por um cheiro antigo
lembro das tuas mãos nos meus braços
apertando-me em abraços
de cuidado e proteção.

num instante grita a falta
das gargalhadas
do gozo aflito
das brigas sem um único grito
das noites de amor e degredo
do mistério de não manter um segredo
e da inquietação tão nossa
de fazer alguma coisa
ou coisa alguma,
juntos.

essa dor não se apaga
reaparece quando penso estar dançando
queima os cantos do que sou
dilacerando cada certeza
desencanta-se o mundo.

Nessa hora de lembrança solitária
entre gente que me cerca sem me ver
sinto frio
e o salão de baile fica vazio
completamente vazio
sem você.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

naufrágio


quando você apareceu
olhos faróis
em meio ao breu
eu barco a vela
na tormenta
me refizera
e ignorara se seria a hora:
agora era navegar
de novo
no escuro
desse amar profundo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Poema para Roberto ou Da contra-indicação do amor líquido

ah como desce mal esse gole
antes queimasse feito cachaça
antes doesse feito pedaço
grande demais
mas não.

como desaprender
e se desprender
desses séculos de amor
que nos envolvem?

por ora o amor des-envolve-se
e as novas formas
parecem devolver a tudo
o acordo frio
calculado
seco
de muito outrora.

antigos
eu e você gostamos da queda
do soco no estômago
do susto que é amar
solidamente
e do risco de dar
de cara na pedra
do gesto repetido
na ponta da faca.

para nós não se indica
o amor líquido, não:
é certeza de mais ressaca
e menos alucinação...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Falsete

Two man dancing at a drag ball. ARBUS, D. 1970.

Ela passeia por estradas que já conheceu
desejando sentir o perfume que já foi seu
sorri em volta 
esperando de volta
um sorriso que nunca deu.

Sinceridade é moeda rara 
e ela não possui
acredita-se revolucionária
mas em duas tardes
a imagem rui:

Solitária 
pós-moderna
líquida e incerta.

Não tenho surpresa nem alegria
quando de novo o meu quintal visita
essa que fora uma promessa bonita  
revelada agora
só uma sombra vazia. 

domingo, 1 de abril de 2012

Manhã,
caminho até a padaria
o mundo me enche as retinas
e tudo merecia
ser fotografia:

dois pombos que se banham na poça de lama
dois coqueiros em contra luz e um insultante céu azul
um espinheiro que abraça uma pilastra em concreto
uma moita do mais ordinário mato, sorridentemente florida.

Foi só uma noite de dor
e amanheço assim,
impressionada com a vida.