segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Carta de amor*


não
nem o meu nem o seu peito
são de aço
podemos fingir por uns minutos
mas o traço
dos dias nessa história de pandemia
eliminou à força o que já nos foi paço.

despedidas sempre foram
temperadas de tristeza
mesmo aquelas mais felizes
em que quem parte a longo prazo,
vai buscar diretrizes pra vida
se encher de beleza.

como já foi, mas não é agora, o nosso caso.

sei que nós nunca nos assustamos com a distância
porque moramos perto e dentro, numa aliança
que não se desfaz por viagem, nem mudança.

mas não
nem o seu nem o meu peito
são de aço
e estamos sem socorro
silêncio e embaraço
desde ontem me explodem na garganta e na cabeça.

- é que você sofre e eu estou que morro
essa carta é o caminho que invento e percorro
pra fazer que nosso abraço, impossível, aconteça.


Para o meu vizinho, entre tantas outras coisas que ele me é, Roberto Mibielli. 

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