The Daily Bread, by Thomas Benjamin Kennington, National Museum Liverpool. |
o sino não para de tocar na varanda
o céu azul encobre a manhã
que se doura
lentamente.
acordo do sono induzido
venta
o coração pressente o dia
a pele se arrepia
e venta, venta, venta.
sacolas vazias alçam voo nas ruas empoeiradas
e o menino a quem falta comida,
trabalho, casa, cama
suspira, olhos fechados:
que bom, venta...
Não há venda nos olhos de quem não vê
mas falta vontade no corpo de quem não ama.
Revejo a imagem de um menino ao longe
aos treze anos, debruçado sobre o pai morto
ouvindo seu coração silenciado:
o menino que em breve teria o dedo torto
um menino, que em breve seria só mais um
navegando na miséria de São Paulo...
Meu pai!
Como venta hoje na cidade ao norte!
Tocado cedo pela morte
aquele menino que o senhor foi me tira o sossego.
O dia nasceu
e tu andas ainda, pai,
nas memórias do meu degredo
nessas ruas que o vento lambe e teus pés jamais pisaram
te vejo em centenas de outros meninos
desesperançado, perdido, com medo,
sozinho nas ruas, insone e faminto.
Não é segredo, meu pai,
nem é destino!
e como eu sinto...
eu sinto muito,
perdão meu pai.
Perdão restaurador, que nos faz renascer. Digo Amém à sua poesia-prece.
ResponderExcluirAmigão, como de praxe exprimindo com primazia os sentimentos por meio do uso das palavras... Me fez lembrar a canção Garoto de Rua.
ResponderExcluirFiquei querendo saber se isso é isso mesmo, se fui testemunha desse momento redentor assim tão lindamente...
ResponderExcluirHerika, obrigada por estar sempre aqui. Ingrid, um pedido de perdão é uma declaração de culpa, não? Camacho, meu querido, a miséria ainda é uma chaga.
ResponderExcluirUm beijo pra vocês, gratidão por sua leitura!
❤
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