terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Do meu anacronismo amoroso*


"Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha."  
Cecília Meireles

quando teus olhos 
se afogam em meu corpo 
cada poro meu vira porto, 
o tempo perde o poder
e eu simplesmente anseio 
em meu seio, para sempre,
te ancorar, te suster.
isso é amar, creio eu,
encontrar um sentido 
e ser.

II
tua presença espelhada, 
espalhada em horas de bem estar
me faz alçar voo sem sair do chão
e o clichê só comprova 
que a eterna "doce ilusão"
em mim se renova.

III
urgência sentida no agora: 
do poeta, ter e querer,
da voz, o timbre 
da pele, a textura 
do hálito, o cheiro 
e do texto, a ternura...

é e será minha meta
no gozo da hora mais pura
agir feito esteta 
que, do mundo, ignora a loucura
e por isso se empodera 
e se cura. 

IV
esse poema é sobre 
o que me encanta e descobre
e o que eu sigo, peito aberto,
acolhendo sem temor
pois que o horizonte é incerto 
e "meu peito é puro deserto"
se não está cheio de amor.

* Para Bandeira e Cecília Meireles (na foto) e todos os demais poetas modernos que me ensinaram a não ter medo do amor, a vivê-lo com urgência e alegria, mesmo diante de sua infalível falibilidade...

2 comentários:

  1. Adorei. Eu vivo dois amores, esse seu, à moda antiga e o amor usado e lavado muitas vezes, cor de burro-quando-foge.
    Não sei qual foi a parte que eu perdi da história do amor contemporâneo.

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  2. Gostei muito. Adoro esse tipo de verso. As rimas ficaram ótimas, fora a temática que me identifico muito.

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