quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capa de" J'ai besoin de tendresse", de Ange Axel Moncorgé.2016.

Vou guardar meus poemas
meus três metros de mensagens
sem respostas
minhas mãos passeadeiras em suas costas
meus abraços fora de hora
meus beijos doados sem medo
minha boca, meu tesão
vou guardar a ânsia de te ver
vou guardar a ânsia de te ouvir
vou guardar a ânsia de viver
e do teu lado dormir.

Vou guardar pra mim
os atos de amor escondidos
na compra de supermercado
no banho do seu cachorro
no wafler de limão
no vinho na geladeira
na roupa nova pro colchão
no sexo de segunda-feira
e a aquarela em que eu, inteira
me coloquei na sua mão.

sim meu amigo
não se preocupe, eu não brigo
sou desse jeito, e no meu peito
pelo sim, pelo não
Vou guardar aqui  
o que você, na sua sandice
amarga e duramente 
me pediu que eu não repetisse...
não vou deixar meu amor se esvair completo
nessas lágrimas em que há tantos dias 
eu me derramo, derramo, derramo...
repito e guardo pra mim,
já que você, distante e covarde, prefere assim
não te digo mais que eu te amo.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

"É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar"

"quem cultiva a semente do amor
segue em frente e não se apavora
se na vida encontrar dissabor
vai saber esperar sua hora..." 
Tá escrito, grupo Revelação
estão se indo os dias de chuva,
é cedo, cedo e a menina samba
constrói um espinhaço
espiral de energia que ascende ao espaço
braço, perna, quadril
tudo a mil
rodopia
fecha os olhos e dentro
sapateia com gosto de quem se vinga
as brotadas ervas daninhas
mentira tristeza decepção desamor

ela requebra
faz um sapatinho
e olhando pra cima não vê
as memórias de alguém
que sequer saberia dizer
o poder que tem sambar
pra curar seu coração.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Descontrolada e incerta

A duras penas tenho aprendido
que o incerto não é errado...
O incerto é esse cinza que me embaça o olho
miro-o como quem encara a lança no peito
como quem perde o último fôlego rio adentro
como quem, da forca, sente a abertura do cadafalso
enfrento-o na rua e no leito
no dia raiado, na tarde murcha
na madrugada insone
o incerto a tudo vence
e nos consome...

debato-me frouxa com o desejo inconformado,
descontrolado,
de controle.
eu que tarde descobri as lições do fluir
ainda me perco amiúde entre quereres e fervores
me acinzento
desacatando crepúsculos e amanheceres
que se acumulam na retina pra me lembrar que me afogo
que me firo a ferro e fogo
ao tentar, por força
esse jogo vencer.

afiro a vida
e respiro de novo,
e de novo,
e de novo
invocando o mantra que me tortura e salva
 - pois que destrói quem, tolamente, acreditei ser:
"não lutar,
nem temer."