terça-feira, 24 de novembro de 2015

Cólera dos deuses?

Eram uns olhos grandes,
uma boca grande, 
uma simpatia... 
Eram amigos comuns, era casa e bar e praça, água vinho cerveja cachaça, 
era choro e alegria... 
Era uma noite escura, a dança, o copo, a fumaça, era'studo e boemia. 
Eram livros e trabalhos, filmes, discos do caralho... era pura poesia. 

Foi assim que o terrorista invadiu o nosso peito, 
cheio de bomba o sujeito jurava que se explodia. 
Foram mãos e pés e línguas, saliva e choro e suor, 
foi entrega de cativas, foi loucura, 
é amor.

Era um bolero ou um samba? Ao vivo, na corda bamba, eu disfarçava e sorria. 
As pernas entrelaçadas sob a mesa na calçada, tu sabias, eu sabia.
Fosse em dupla, em bando, em trio, nada em nós era vazio, tudo tinha uma razão:
a verdade nos guiava, nossa pele nos guardava, fomos tema de canção.
Tu sagitário e eu câncer, um ariano, um romance e um judeu na contramão
a distância e o fogo amigo,
as lembranças, o perigo, 
as horas naquele chão... 
um bolo de chocolate, feito a cor da tua pele pras formigas da minha pia
e nós dois entrelaçados feito dois astros dourados na noite que se perdia.

tanto faz se dez ou vinte
quantos anos se passaram desde que te conheci?
eu nem sei o que já era, sei que tu, há muitas eras, já estavas bem aqui
dentro em mim, feito eu mesma, me doendo e me curando, como só eu sei fazer,
sei bem desse reencontro
desse amor que já vem pronto
com mil começos e fins
sei do destino marcado 
nos nossos nomes trocados:
tu martins e eu martins.  

(Feliz aniversário, Aguirre, cólera dos meus deuses. )

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