segunda-feira, 24 de agosto de 2015

no fim não sabia
por quanto tempo estivera
na estrada vermelha
cobrindo-se de sol e poeira.

descobriu-se caído
aprisionado
pés rasgados sobre o pedregulho,
desgrenhado, faminto...
completamente vazio
de fé ou orgulho.

entretecido de couro e barro
mirou-se lentamente
a pele vincada como os sulcos no chão
os olhos noturnos em brasa
nenhuma brisa no pulmão

intentou erguer-se
mas com a rigidez de mil laços
as curvas da estrada impuseram-se
imperiosas
à sua coluna, suas pernas, seus braços.

e não há nada
que dele se revele
pois ali, sozinho
de caminhante
tornou-se caminho.



2 comentários:

  1. Pó sobre pó
    Como palavras tecidas de vento
    Ergueu-se de si
    Inexistente e puro
    Lavando - se na liturgia da chuva
    Já não estendia as mãos às moedas
    Sabia o soslaio alheio
    Sem pena
    Sem dor
    Sem ressentimento
    Já fora caminho e pedras soltas
    Dessas que aqueles sem pecado jogavam
    Das chagas e chacinas de estar vivo
    Herdara o saber escuro
    De atrás dos olhos
    Agora fazia manhãs
    Que confeitava de núvens
    Imperfeitas e chuvosas
    Cómo o homem jamais poderia ter deixado
    De ser

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  2. Teu poema tá lindo, Eli. Meu face tá meio doido, por isso tá duplicando os comentários. Tentei apagar e ele danou os dois. Apaga um pra mim, por favor?
    Beijão!

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