terça-feira, 29 de abril de 2014

Carta ao poeta

Caminhando pela terra
em que te hasteaste pela prima vez
nada vi que pudesse
te fazer mais solar,
não que o sol se negasse -
ali estava, vespertino
colado ao azul do céu
acalmando formigas afogadas
pelo transborde matutino dos canais
depois da chuvarada.

Mas eram de um cinza impiedoso
os prédios, os becos, os murais
não há mais sertão na Caxangá
mas ônibus urbanos
cheios de gente sem urbanidade
gente que não se vê nem se fala
vi meninos e meninas
sua pele que exala convites
contraditos nos olhos perdidos e bocas fechadas.
Não vi crianças
revi, querido, com tristeza,
o autismo da São Paulo da minha infância.

As ruas do teu lugar tem o mesmo nome
a cidade tem o mesmo nome
mas em nada pude ver a Recife
a verdadeira Pasárgada
onde um dia Clarice
imaginou-se abraçada
às Reinações de Narizinho:
era mesmo de felicidade clandestina
a Recife da minha memória.

Talvez fora sempre isso,
e eu, despreparada
caí diante do anti-amar que ora banha o Hell cife,
revolto mar que me inunda ainda agora
e me afaga o coração em desalinho
com suas ondas de medo
e com seus dedos de espinho.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Me levaste nessa viagem contigo. Fiquei saudosa, e nem sei ao certo o porquê. Mas poesia é saudade pura mesmo. <3

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  3. Viva!

    Do norte, de Roraima a poeta vem
    Elimacuxi com sua verve e poesia
    Novas e brilhosas ideias também
    Que acabam alegrando nosso dia.

    Talentosa filha de Érato, a macuxi
    Compõe e escreve como ninguém
    Vate assim não se encontra aqui
    Que natureza a mantenha, amém!

    Acabei me tornando seu fã então
    Porque seus versos conteúdo têm
    E ao encontro de minhalma vão.

    Quando a leio alumbramento vem
    Porquanto versos inspiradores são
    Pois o que escreve vai muito além.

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