Caminhando pela terra
em que te hasteaste pela prima vez
nada vi que pudesse
te fazer mais solar,
não que o sol se negasse -
ali estava, vespertino
colado ao azul do céu
acalmando formigas afogadas
pelo transborde matutino dos canais
depois da chuvarada.
Mas eram de um cinza impiedoso
os prédios, os becos, os murais
não há mais sertão na Caxangá
mas ônibus urbanos
cheios de gente sem urbanidade
gente que não se vê nem se fala
vi meninos e meninas
sua pele que exala convites
contraditos nos olhos perdidos e bocas fechadas.
Não vi crianças
revi, querido, com tristeza,
o autismo da São Paulo da minha infância.
As ruas do teu lugar tem o mesmo nome
a cidade tem o mesmo nome
mas em nada pude ver a Recife
a verdadeira Pasárgada
onde um dia Clarice
imaginou-se abraçada
às Reinações de Narizinho:
era mesmo de felicidade clandestina
a Recife da minha memória.
Talvez fora sempre isso,
e eu, despreparada
caí diante do anti-amar que ora banha o Hell cife,
revolto mar que me inunda ainda agora
e me afaga o coração em desalinho
com suas ondas de medo
e com seus dedos de espinho.
terça-feira, 29 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Paixão-Ator-Menta*
por desejo eu chovo
é senda em que me reinvento
tempestadeio
trovejo, relampeio
e caio:
peço socorro alusivo
em cena não rara:
'sem o que desejo não vivo'
mas é birra mal comportada
de quem da vida apanha
mas encara
se tudo escapa
a coberta dos anos e amores passados
escancara portas proutros ventos
relembra outras dores fatais
é senda em que me reinvento
o exercício de céu azul
vou desanuviando
e sigo em paz
porque paixão
é feitio da vida
e sem paixão
não vale mais.
Para um amigo que troveja e dança comigo
Para um amigo que troveja e dança comigo
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Caosando
me atrai feito peitos brancos
expostos e oferecidos:
me pega pelos flancos,
turva meus sentidos.
ontem toquei manaus por baixo
a pele úmida no calor de um abraço
o ar pesado
que ao amor antigo
cor empresta
em fuga funesta
vi manaus de cima
seus morros ocupados
entrecortados do que resta
de floresta
longe já, por um momento
fecho os olhos para ver
a manaus que aqui de dentro
não desgasta:
seu caos
que de paixão me reinfesta.
sábado, 12 de abril de 2014
Jamaica brasileira
sob azulejadas nuances
vermelhos e verdes
negros retintos
e aquela amarela
breve luz de uma vela
para Jorge, o guerreiro
o mago
com a radiola em controle
me enfeitiçava manipulando sua prole:
elevava compassadas
repetidas,
as notas que invadiam todos os cantos
e eu, embriagada pela fé que em mim se inserta,
no amor, que manifesto, a tudo altera,
vi que o mundo se movia lentamente
vi assim o despertar de uma quimera
provocando-me um intenso desapego:
provocando-me um intenso desapego:
o meu corpo, separado de seus prantos
foi despido de seus demônios e santos
puro encanto e alimento para o ego
puro encanto e alimento para o ego
transe
de suor banhada
a pele empretecida por dentro
não me impressionara mais
que as retinas e ouvidos cheios:
meio demente
sempre, do que há no mundo
me fiz recipiente
era para Jah
que soavam os cantos
e eu, entregando a alma
mantive a calma
ainda que desejasse
com toda a força
que fosse pra sempre cedo
e que praquele suave degredo
o fim não viesse
jamais.