a estrela brilha
e brilha e brilha
em mega-explosão
depois perde as asas
vai pra casa
e se apaga:
porque fervilha
em seu coração
um mar a milhas
e é uma ilha
sem sol
nem chão.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Entre o céu e o inferno
pouco importa o quanto você brilha
o diabo é a maravilha nas coisas
pelas quais teu desejo fervilha
pouco importa se você deseja
o diabo se enseja nas coisas
cuja posse, teu ardor areja
pouco importa se você possui
o diabo destitui todas as coisas
da utilidade que você intui
pouco importa se tem cabimento
o diabo é o tempo das coisas
e seu desencantamento
o que importa
é essa coisa torta
paraíso do você-coisa
reino eterno de não ser
porque o inferno
principia na porta
do querer.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Experiência de fé
Olho para dentro
há lugar pro sentimento
de que nada há de passar.
É você, sua presença
esse amar, essa latência
a espera e a insistência
que me fazem acreditar
que entre nós
nem a distância
nem tempestade ou bonança
poderão interpelar
o amor brotado à crista
desse par: nossa conquista!
Meu e teu,
é doce o mar.
há lugar pro sentimento
de que nada há de passar.
É você, sua presença
esse amar, essa latência
a espera e a insistência
que me fazem acreditar
que entre nós
nem a distância
nem tempestade ou bonança
poderão interpelar
o amor brotado à crista
desse par: nossa conquista!
Meu e teu,
é doce o mar.
sábado, 25 de janeiro de 2014
Paulistana
Você me assombra ainda
me batuca
confusa musa.
Seu som eterno
de rádio e carro
gente agitada
cimento e barro
grande e diversa
doce e perversa,
tão tensa e terna
és luz e breu:
tão tu, tão eu.
Longe de ti
me sinto mais tua
sutil desconforto
meu mar sem porto...
Fugi de você,
e seu trato cruento
mas você veio, enfim,
comigo e contra mim
pulsando por dentro.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Cada minuto de silêncio
caiu-lhe como uma gota na testa
(o tempo atesta
que muito se perde quando nada se pede
que muito se esgarça quando o ardor
força e é farsa)
Fingiu felicidade
enquanto no fundo
corroía-se por fungo
o amor que se lhe entranhava o centro.
Não negou cuidados ao viveiro
delicadamente transplantou a orquídea
regou vaso e pensamentos
farejando saudades fugidias pela fresta das horas.
Daí despiu-se do medo e firmemente
feriu a si mesmo rompendo a pele em desuso
destruiu o jardim com fúria
metendo-lhe os dedos na terra úmida
entre as raízes,- quem sabe?-
furtaria de si
o fraudulento coração.
caiu-lhe como uma gota na testa
(o tempo atesta
que muito se perde quando nada se pede
que muito se esgarça quando o ardor
força e é farsa)
Fingiu felicidade
enquanto no fundo
corroía-se por fungo
o amor que se lhe entranhava o centro.
Não negou cuidados ao viveiro
delicadamente transplantou a orquídea
regou vaso e pensamentos
farejando saudades fugidias pela fresta das horas.
Daí despiu-se do medo e firmemente
feriu a si mesmo rompendo a pele em desuso
destruiu o jardim com fúria
metendo-lhe os dedos na terra úmida
entre as raízes,- quem sabe?-
furtaria de si
o fraudulento coração.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Confessa e declarada
I
Passei noites com Vinícius
compartilhando nossos vícios
em mulheres e amores...
Amei de fato as melhores,
a Bruna e a Marina
a Martha e a Adélia
a Sylvia e a Cecília...
Quanta maravilha!
Confesso que fui amante de Carlos,
de Afonso, de Pablo, de Frederico...
fora os encontros furtivos com Paulo,
com Arnaldo, com Oswald, com Chico...
Muito fugi com Luís Fernando,
e fingi prestar atenção às equações da aula
quando
meu pensamento dançava
no pensamento de Renato.
Que barato!
Nada fiz de encoberto
já tive caso e acaso
com Roberto, Caetano, Cacaso,
e outros que nem me lembro...
Esses homens e mulheres
que me compõem por dentro
e me decifram pra mim
nas horas que não me entendo,
com todos já visitei
o chão do inferno e do céu!
- mas a nenhum eu amei
do tanto que ainda amo
um poeta: Manuel!
II
Não sou virgem cem por cento:
com você me fiz Tereza,
corpo entendido, sem alma
fui um porquinho da índia
beco da cidade, trauma,
um bicho na imundície
dancei um tango argentino
na maior libertinagem
teadorei, teadoro...
Se há algo que lamento,
Amante mais do que lido
Bandeira da minha vida,
Foi não te alcançar, amigo,
Quando cheguei, nódoa inteira
tu daqui já tinhas ido...
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Resumo da ópera
Tátil
intentara colher
campos lavrados
de frases feitas
e atos de bem querer.
aprendera a desejar
aquela presença
que se fizera doce
constante e intensa.
Frágil
lhe restara lamentar
a súbita ausência
que silenciosa e sorrateira
viera se impor com violência
em cada poro e hora inteira.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
En sur, descida.
Na subida
eram sonoro carinho
os zumbidos
e os ruídos
que colhia no caminho
foi-se enchendo de tudo
ao escalar o monte
falsamente desnudo
quando no topo
tocou a eternidade por um átimo
logo soube: foi ótimo.
Por isso resolveu não lamentar a descida
derrotada em disputa com a vida
nem mais chorar por estar despedaçada
na pista gelada, vazia e silenciosa
em que, de repente,
se convertera a estrada.