Elimacuxi, poesia pura
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
da falta que sinto
minha cama morna
e com espaço a mais...
é um naco amargo
que a manhã adorna
com suaves ais.
o meu pensamento
é trilha sem volta
e de ti fervilha
logo que desperto
nado em mar aberto
sem ver praia ou ilha.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
o sol
dispersando
a solidão
sacudiu a sorte
separou-me do silêncio
secou meus olhos
soprou sereno
senhas e signos
sonhos selvagens
e sons ancestres
nos meus ouvidos
depois anoiteceu
e no coração, inserta,
salta selvagem
essa saudade
redescoberta.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
balanço dos dias
imagem de Ai Shinohara, selecionada por Andréa Cordeiro
o que cabe nesse furo
que abrimos pro futuro?
feito peixe
nado nesse facho de luz
a janela entreaberta me conduz
receita certa pra ser feliz?
é por um triz
essa nova chance?
quero escrever a punho essa história
construir cada ponto da nova memória
encarar o que está encoberto
sem temor
ver tudo dar certo
e no fim morrer...
de amor.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
nem ligar para dor ou pesar
nem pesar o que levar
levada espalhar
travessura no caminho...
caminho ao teu lado
e ninguém mais chuva:
sobre a viúva
- antes sozinho -
um solzinho!
domingo, 19 de fevereiro de 2012
minha fome
não tem nome
se espalha pela pele
pelos cabelos molhados
pelos pêlos
minha fome
resume mil apelos
inconfessáveis
cobertos de incontáveis
zelos.
e não há água bruta
que dê jeito
mesmo que ao mundo,
noite e dia, eu degluta
não se sacia
o desejo dela oriundo...
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Carne-aval
todo o pronto
todo encanto
tudo quanto
eu possua
já virou investimento
e por mais que eu intua
que a razão se foi pra lua
tudo que sou
e que sobre meu ser flutua
só traduzem uma ideia:
minha carne
quer ser
tua.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Carnaval
Não haverá lua cheia
e ainda assim
a energia que teu corpo
no meu semeia
iluminará o porto
da eternidade
ensaiada em mim.
rindo à toa
acho graça
do que passa
do que não passa
sorrio mais
de coisas importantes
e banais.
estou assim
nesse estado
abobado
olhando no espelho
me inquiro se é sandice
mas algo agora
quase me convence
que estar triste
é que é tolice.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
esfriamento global
antes parte
do mar
dissolvo-me
resolvo a-mar
em novo âmbito
ponho-me incurso
livre, longe
alojado entre o erro e o acerto
desperto líquido,
decerto insípido
aberto,
auto-tóxico.
esverdeadas
as escamas espalhadas
sob a luz que me banha
e tudo em volta frio:
tudo rio.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
de memória
A loucura é magra
branca e pequena
tem fala serena
numa voz que é rouca.
A loucura
se vista de cima
até parece pouca,
quase não alucina.
Mas deixa seu rastro,
o raro escorpião:
a tudo destrói
tudo põe no chão...
A loucura não se rende
invade a memória
e destrói
devaneios de outrora...
Não me iludo
não sei de tudo
mas algo sei:
para ela, não há lei
a loucura é bárbara.
Auditivo
Ontem o amor veio me falar
e já era tempo
dou-lhe alento
sou-lhe unguento
e outras formas de cuidado...
Deixou-me surdo
cansado,
à espera de outro remédio...
(porque amor sem tato
é um tédio!)
Poema feito em resposta a outro, sem título, de Roberto Mibielli, publicado no Facebook na primeira hora dessa quarta-feira
.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
SMS
Las tres esfinges de Bikini, por Salvador Dali, 1947.
Mesmo no quinto
dos infernos
vencemos o deserto
e com modernos
sinais de fumaça
ficamos perto...
(e sei
que nem é por isso
que entre nós se desfaz
a noção de espaço:
é por dentro
e com a cabeça
que te abraço...)
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Se me concedesse
o gênio
um desejo,
seria a palavra definitiva
e eu,
intuitiva,
descreveria
todo esse livro
de quinze dias.
e o faria assim,
num termo,
sem prefácio nem fim.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Ela fala
falta, furta
fere e afere desejo
e o que mais em si
for festejo:
Tátil,
dócil...
É de fato
quase fácil,
não fosse
a fita amarela
sobre ela:
- FRÁGIL.
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