sábado, 22 de outubro de 2011

dos sentidos da morte e vida*

quando eu morri
há um ano atrás
não sabia de nada mais.

vi o melhor de mim se esvair
vi o melhor de mim se enterrar
vi o melhor de mim desaparecer
e fiquei comigo uma pedra enorme
num sapato de andar milhas.

quando eu morri, há um ano atrás,
enterrei maravilhas.
uma vida inteira de poesia e verso
um universo de fazer-se e refazer-se na troca com o outro
a tocar no eterno...
quando eu morri, há um ano atrás,
reconheci o inferno
a realidade do astronauta,
o nada, o nada
eu era
sem companhia, sem reflexo.

como se irrompesse de minha mãe pela segunda vez,
há um ano atrás
violenta e viva
eu explodia e era a solidão
renascida em estado bruto, puro e original
então saudei ao mundo
com meu choro e a dor aguda
de quem renascia
e, de novo,
nada mais compreendia.

* Para Vavá que me fez crer, por dezesseis anos, que eu não estava perdida no espaço...

7 comentários:

  1. Amiga Eli, amei o teu texto e consegui "sentir" a tua dor. Dizem que os artistas/poetas são as pessoas que conseguem penetrar no impenetrável...traduzir pensamentos, sentimentos, cores, sabores...a própria essência da natureza humana. Parabéns, vc consegue tudo isso através da sua poesia...muita força.

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  2. "quando eu morri, ha um ano atrás, reconheci o inferno" - Eli, isso é tão lindo quanto triste e é tão verdadeiro que doeu na gente também, e continua doendo. Um beijo forte.
    Mibi

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  3. Há um ano, eu era jurada num concurso de cosplayers (Fantasy no Sekai) em Roraima, quando chegou a notícia.
    Eu nem soube como reagir. Nem eu nem a Gaby...

    Eli, um grande beijo.

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  4. lindo gozzo, como uma pequena morte, arquitetura de vestigios em gozzos, rsrsrsrsrsrsrsr!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. A dor é inevitável e você consegue traduzi-la em palavras. Não palavras simples, mas no arranjo destas.
    Não sei o tamanho da sua dor, porem, pude sentir você dar um pouco dela pra mim.

    Forte mulher, atras belos versos,
    ... bjs pra ti.

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  7. A gente morre por dentro, mas é inevitável: a vida física que ainda se resta nos força a continuar.

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