domingo, 31 de outubro de 2010

Re-passando

Sentou-se pacientemente.
Devagar, sem pressa, passou e repassou o mesmo filme.
Também o tempo passava, impassível:
Passaram por ele a sombra do sol, um dia inteiro e uma noite mais, enquanto diante de si via repetida a história, cena a cena.
Passaram lágrimas por suas faces
e sorrisos por suas memórias.

O relógio da sala
barulhento e insistente
reforçava a ideia de que apenas uma certeza
não passaria:
reviveria tudo
como num filme
de novo
de novo
de novo
de novo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

o que se perde

ficou sem comparsa
meio que sem querer
ele desistiu do crime

dispersa
ansiosa e com medo
calou-se em degredo
o sol quedando-se quieto sobre a pele nua
e um mar salgado correndo pelas faces rubras:

reinventar-se por completo
tornou-se o desafio mais urgente

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sobrevida

esse rio amazonas contido no peito
silêncio amadurecido,
palavra fedendo a guardado

sangro toda
em conta-letras
quando ouço irromper esse suspiro
e a distância eterna anunciada
no ar que nos falta