De olhos fechados. Óleo sobre tela de Odilon Redon, 1890. Museu d'Orsay, Paris. |
são muitas notícias
são muitas nações
são muitas reações
são muitos os medos
o mundo que parece não ter mais segredo
são muitas imagens
são muitas refeições
são muitas maquiagens
são muitos apagões
são muitos mortos
são muitas cores
são muitas ondas
são muitas lives
muitos artistas
muitos poemas
muitos lamentos
muito repúdio
são muitas notas
de um mundo mudo
porque são muitas as notícias de fora, de fora, de fora
são muitas as notícias de fora
são muitos ratos
são muitas dores
distintas violências
velhos horrores
são muitos gráficos
são muitas faltas
muitos enganos
em menos de dois anos
são muitas novas
que já são velhas
são muitas telhas
quebradas sob a chuva
são muitas mortes
em muitas curvas
são muitos os uivos e antes do doido,
antes do imundo travestido de Messias
- e por outros motivos - em mim já havia
esse grito às avessas: onde estão meus crivos?
poupem suas cabeças...
já são muitos dias na quarentena que parece eterna
e se nos calarmos não será por obediência
mas pela urgência de dar espaço
ao silêncio necessário para fazer ecoar
nesse mundo de muito barulho e embaraço
a nossa voz interna.
7 comentários:
Adoro ler vc! Leio rapido, eu que sou lento, assimilo tudo como se tudo já estivesse em mim.
Tenho guardado no peito muito “uivos”, muitos “gritos às avessas”. Tem vezes que sufocam, tem vezes que transbordam.
Parabéns pelo poema. Nesse atoleiro, não sei se fico em Munch ou Romero, mas quero me libertar
Maravilha, Eli!
Bravo! É muito bom ter você entre os meus. Pra pensar e sentir junto...
Bravo!
O silêncio permite uma imersão em nós mesmos. Estamos atordoados com o tempo: parece ser maior, mas é insuficiente para decifrar e dimensionar as demandas do viver.
Obrigado pelo carinho e pela delicadeza com as palavras!
Fique bem!
José Alves
Obrigada a vocês por esse retorno. É um bálsamo. De atenções sinceras estamos todos precisados. Muito amor e saúde a todos.
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