"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 22 de junho de 2016

me afogo
não me comovo com o fogo dos deuses
que aí transita
corre ruas esburacadas e atrapalha
trabalho e trânsito
digam que estou oca
mas não me comovo com o fogo de deuses importados
adentrando a maloca

me comovem mais esses gatos atropelados pelo asfalto
esses cães abandonados pelo campus
a injustiça dos ladrões me governando
me comove mais a cegueira e o descaso

eu
que venho há tempos tentando fechar ferida
reacender em mim o fogo da vida
que venho esticando músculo e cartilagem e osso
para ver se espremo uma gota de fogo que seja
no suor que lava a pele
não sei me comover com a artificial exterioridade
desse fogo dos deuses

prefiro ainda a centelha
do olhar dos garotos diante do poema
a centelha que brilha no olhar úmido
dos garotos diante do poema
fogo surgido da palavra que trabalha
única chama viva
que intransitivamente
por ora me calha.

Um comentário:

Andrerson Di Azevedo disse...

"...prefiro ainda a centelha
do olhar dos garotos diante do poema
a centelha que brilha no olhar úmido
dos garotos diante do poema..."

Concordo e gostei muito!
A parte em destaque gostei por demais. 👏👏