Comício de Lula em São Paulo, 1989. |
eu tenho isso vivo na memória
sua greve, minha performance nua
uma fé filha da puta que invadia nosso peito
e mantinha a gente na luta
nós na rua
em ação
cidadania contra a fome e pela vida
nós na avenida, gritando, berrando, dançando sambão
atando nós de esperança incontida
de construir algo maior do que nosso próprio coração
para além da nossa vida...
me lembro da gente na rua, enlaçados num nó, tudo junto
rindo por quem nascia, bebendo defunto
ensinando e aprendendo novas formas de afeição
pensando em quem não tinha
casa, estudo, sonho, pão...
me dói hoje
de eleição em eleição
ver campear a ignorância, a falta de amor, a solidão
fermentam o nosso medo, sufocam nosso tesão
o conhecimento ancestral, há tanto jogado fora
e até a ciência, que é recente, se ignora
"a Terra é plana", "nunca houve ditadura"
"a vacina adoece", "o nazismo é de esquerda"
Quanta merda!
Me fecho numa prece
e peço aos deuses todos que nos guardem
dessa onda que acontece
porque fizemos história com o teu e o meu suor
e brevemente mostramos
que sim, "sabemos de cor
e só nos resta aprender".
vejo o Brasil ser tomado
por essa "gente de bem"
mostrando finalmente sua cara,
como pedia o Agenor
você tem visto esse horror?
Eu cá, sem você, me pergunto
por Maomé, Shiva, Cristo
se essa tristeza não vem
por nossa idade também
se política pra melhorar o mundo
não é coisa de vagabundo
ou ideia obsoleta
e me ouço gritar, no fundo de mim,
que Não!
que ESSA ONDA É REAÇÃO
devemos seguir em frente.
lembro de você, de mim,
fico contente
e no fim das contas me animo
a encontrar novas formas,
de política pra se fazer
de nadar contra a corrente
e estabelecer nova meta.
nossa vivência de luta é meu arrimo!
escrita por nós, com tantos nós
a nossa história recente, embora dura
destruiu a ditadura
fez o primeiro operário
e a primeira mulher presidente!
Nos orgulhemos de tê-la vivido
pois viver sem crer e lutar para melhorar o mundo
pelo amor, pela vida das pessoas
não tem nem nunca terá o menor sentido.
*ao Betinho, a mim, a você, que, embora golpeados por todos os lados, ainda lutamos por um mundo melhor.