quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

De conversas sobre o tempo




O corpo apresentará seus limites,
a mente acompanhará assustada,
a alma se perderá no caminho...
O tempo, implacável, nos come a todos,
sem tempero nem gosto, sorve
matéria e espírito,
Com ou sem lamento
tudo em nós, em breve,
será corpo do tempo.
Ignorar que somos dele a refeição
não diminui seu apetite voraz.
Tampouco haverá modo de evitar-se
que ele nos degluta...
Ah, tempo, tempo filhodeumaputa,
Eu me vingo sendo sempre
fervida,
e muito doce, ou amarga demais
Pra que cada mordida tua e cada vez
Que por ti sou engolida,
Que cada saliva tua que me banha
Com irrefreável sanha
Traga viva a lembrança da única verdade sustentada:
Sou seu alimento, breve serei nada,
Mas do agora de cada hora,
Enquanto conscientemente respiro,

Sou eu, a plena senhora.

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