terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A filha pródiga, ou dos resultados da meditação.

I
Primeiro acreditei que era incapaz
de conversar, de sorrir, de partilhar,
acreditei que era incapaz de me superar,
acreditei que estava pronta pro nunca mais
acreditei que era incapaz de acreditar.

II
Com um fiapo de dignidade reagi
e quando finalmente findei
com a "solidão a dois de dia"
eu já não era, eu era só agonia
destroçada, não me reconhecia
e não queria viver mais.
Uma dúzia e meia de meses atrás.

III
Para desistir da forca
o primeiro passo foi respirar
e respirei feito louca, embora ainda não pudesse
nem de longe me suportar.
Rigidamente impus flexibilidade ao meu corpo
que gordo, esquecido, torto
se fez dolorido e abandonado,
de mim, pela desesperança sequestrado
era um corpo perto do fim.

IV
Cozinhei-me devagar e com paciência
reconheci e expulsei
pânicos, inseguranças e outras doenças
reconstruí, naco a naco
a deusa que me habita
e é o silêncio da minha mente quem agora grita
e meu coração finalmente está em paz.

V
Olho-me do alto, árvore renascida
deusa-mãe, mulher, completa e decidida
reconheço em meu tronco cada marca, cada ferida
sei quem me impôs o último golpe aniquilante
e sei que fui cúmplice na queda vertiginosa
ao abandonar a consciência de ser rosa,
ser jasmim ou onze horas
flor simplérrima sobre o chão
beleza efêmera, odor de ocasião
permiti as sucessivas podas
que devastaram-me o jardim do coração.

VI
Hoje vejo brotar a palavra perdão
para quem me feriu,
para o mundo que assistiu
para mim mesma, na totalidade do que sou.
Quero caminhar consciente da beleza
de que respiro e sou parte completa da natureza
de que meu corpo vibra e minha voz pode embalar
sou quem sou,
nem anjo nem demônio,
não estou pra destruir nem salvar
sou apenas um ser completo
capaz de me entregar,
de amar e reamar.

Sim, por fim
a mim mesma
eu voltei a cultuar.






2 comentários:

  1. "Por ti, encanto"

    a via
    a sentia
    a observava
    a conhecia

    Uma história
    no mínimo estarrecedora
    os nós, as curvas, os rasantes
    de sua alma historiadora

    Como quem invade, sem pressa
    adentrei em sua sombra, seu ninho
    ali, almas que se reconhecem
    e se apaixonam por cada nuvem, piadas e romances
    e parece que nunca envelhecem

    senti uma paz, um calor, o amor
    que acolhe, alinha e inspira
    tentos perdidos e sem rumo
    em suas ramas encontram fartura
    no cego amor que ali pra sempre perdura

    ramas lindas, belas e amadoras
    de uma raiz forte, robusta brotaram
    raiz simples, feita só de poesias
    mil almas, um só corpo que contagia
    que renasce
    se reconhece
    sente dor, chora
    mas ama, traz luz e tão logo
    dor e lágrimas se desvanecem

    ao ver tu, raiz, de volta a vida de "cultuação"
    onde amar é a chave, o segredo
    viver é essência da mutação
    pra quem se entrega e não sente medo
    nesta doce e volúvel canção

    seu renascer
    é a notícia que hoje recebo
    esta afaga este teimoso e confuso coração
    que te ama
    sem segredo
    e sem medo

    assim vi
    assim senti
    assim observei
    assim conheci

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  2. Que lindo Augusto Cesar... Agradeço tanto, tanto...
    Um beijo.

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