sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Amargarida

Foto Gabriel de Paiva, agência o Globo - Lagoa Rodrigo de Freitas, RJ.

Farta
da ausência de surpresas
desses olhos mortos
desse imenso mar de olhos mortos
de nadar entre afogados
por tanta e tonta
informação.

Margarida quer perdão
quer não ver, furem seus olhos!
mirar o sol, fugir, morrer
quer ser mais um na multidão
Margarida quer renascer
meio morta pra acabar com a solidão.

Margarida ao sol
tostada sem amor nem piedade
chora por manter-se úmida, acreditar-se única ainda sendo parte.

Foi a palavra quem fez Margarida
enxergar de olhos fechados
a si mesma,
foi a dura palavra quem encheu a tudo de significados
madurez na pele e no sentido,
Margarida limitada na materialidade da linguagem
vê-se perdida, espessa, burra
não traduz o que lhe afronta
acerca-se, resseca-se, ressaca-se 
e chora.

Margarida ao sol
tostada sem amor nem piedade
fecha os olhos
e chora por manter-se úmida
acreditar-se única,
ouvir a voz que lhe convida
a saber-se, no mar de mortos
ainda com vida.


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