Olha
há ali mãos engrossadas pela terra
braços e pernas marcados
por limoeiros e roseiras
há ali uma respiração lenta
alimentando um corpo
de quem já pariu quem devia
de quem já fez quitutes e festas
de quem já regeu uma orquestra
e hoje habita uma casa vazia.
olha
como foi que se instalou ali
no peito asfaltado
essa agricultora
rosto por sol vincado
cabelo que não denuncia corte
sob essas roupas que, novas, parecem rotas
esperando viva,
silenciosa e resignada
a morte?
Vasculha as palavras perdidas
na colcha dos poemas
remexe as memórias, revolta a água dos temas
cria problemas imaginários,
vai a lugares terríveis
encontrar monstros humanos...
Colhe a adaga guardada
a bomba, o frasco de veneno
é hora
presenteia essa senhora
com o suspiro último.
ama, como se não houvesse danos
ama, como eras capaz há anos...
por você e pelos seus:
mata-a
e volta a viver,
pelo amor de deus.
Eli,
ResponderExcluirUma vez um longevo oriental cativou várias gerações com a seguinte frase: uma imagem vale mais que mil palavras. Pois bem, eis que o poema acima encanta e vale mais que mil imagens.
Parabéns, abraços.
Tu já leste Pedro Páramo, um romance mexicano minúsculo de umas 60 páginas? Parece essa poesia :)
ResponderExcluirLindo por demais! Me indentifiquei!
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