segunda-feira, 21 de julho de 2014

Prece a quatro mãos*

Fotografia: JJVilela.

Único templo possível:
Nosso corpo.
A ele todos os dízimos,
todas as oferendas.
Dele
todos os cânticos e todos os altares.
Para ele todas as preces
porque é nele que se manifestam
todos os milagres.

E assim seja.


*Parceria com o querido Devair Fiorotti

domingo, 20 de julho de 2014

Boneca de pano

caminha
e pela estrada
em cada pedra escarpada
em cada galho seco
em cada espinho longo
deixa fiapos de si

não teme o fim
e sabe
que seguir ferida é o preço
para estar assim
embonecada,
sempre mais leve 
e despojada.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Tristeza não tem fim...*



Quisera eu ter coragem
e poder
para superar sozinha
meu problema comezinho
dos que não sabem ler.
Quisera ter coragem
e poder ainda mais
para abrigar às crianças destroçadas
por bombas
e por pais e mães desaparecidos
nas barricadas policiais.
Quisera eu ter uma palavra de conforto
mas ensino, amor, cuidado, alento,
esperança, fé, ternura, tempo
interesse genuíno, gentileza, compaixão
são só palavras
quando o mundo todo ao redor diz não
e se afunda em trevas
num caos miserável.

Em silêncio, me esvaio
para um sono profundo e culpado
sob o lençol cheirando a lavado
e ouvindo a chuva cair lá do céu.

*para as crianças palestinas, os filhos de Claudia e Amarildo e Beth.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Metamorfose ambulante*

A doçura furiosa de quem
tem todo tempo
toda certeza
toda vontade
toda esperança
e é todo paixão.

De quem acaba de deixar de ser criança
mas não se limita
a ser algo pronto
de quem tem a exata consciência
de ser algo em formação.

Por que é que isso passa, meu Deus?
Sinto falta da maturidade adolescente
pois me ferem as certezas indecentes
de quem crê já estar pronto sem morrer!


porque eu também prefiro ser.