segunda-feira, 24 de março de 2014

Sem feliz aniversário*

olha
voltou a chover na cidade
não deve mais ter labareda dançando no campo
e o rio logo cobrirá a praia.

olha
talvez a temperatura caia...
com a telha transparente a cozinha ficou mais clara
e logo os mosquitos invadirão tudo.

olha
sinto falta dos meninos, 
o carro precisa de reparos
e na Universidade tenho mais horas de estudo...

olha
tem tanta coisa pequena
dessas que se amontoam pra compor a vida
e se pudesse você me perguntaria
sem interromper a lida
- e daí, minha dramática?

hoje entristeço e sorumbática
já sei de tudo
quando miro pra dentro 
teu olhar me mostra a mim.

noite de vinte e três de março
a chuva voltou!
se tudo retorna
por que você não renasce?

o dia seguinte me atesta que é drama a vida que permanece
 - pudesse eu e me extirpava o calendário - 
antes nunca mais essa dor, o desvario,
o retorno vazio e sem festa 
do teu aniversário.


*para Vavá, que ao menos dentro de mim aniversaria de novo.

4 comentários:

  1. Uma lágrima valem mais que mil palavras... Ela rolou...

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  2. que certeza tem o poeta?
    que sentindo deve seguir?
    (sentido não sendo a meta,
    é um caminho pra sentir.)
    poesia não precisa de certeza,
    aliás, um poema dá à dúvida
    muito mais clareza.
    notas a beleza brotando da tristeza?

    ass r. mebs

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  3. Uma lágrima valem mais que mil palavras... Ela rolou...

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  4. Não sou poeta...mas gosto de poesia.
    As suas me fazem sentir como se você estivesse virando-se pelo avesso, abrindo caminho, através das palavras, para se libertar da carne opressora que enjaula o espírito.
    Lendo "Sem feliz aniversário", lembrei de uma poesia que gostou muito de Drummond, e dedico a você:

    Ausência
    Carlos Drummond de Andrade

    Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.

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