sou consciente de que o tempo já me cobra
no peito a pele gasta do tambor
mas nunca temo a emoção que me sossobra
e ignoro o monstro em seu horror
senti o faro, o bafo, o gosto e o som presente
senti as garras sobre a pele enfim
senti o peito transtornado, adolescente
senti a rocha e o mar brigando em mim
não me enalteçam jovens que por vez primeira
caem nas teias, cheios de torpor
pois que é tolice estar assim, livre em cadeias
enfeitiçados por tão bom senhor
se não o espero, o amor arma seu bote
sei de onde brota a luz dessa manhã:
leva minha guia, juventude, castidade
sigo feliz se estiver viva e sã.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
história de voo
viro a página
reformo a vida e saio de viagem
vou levando adeuses e ideias na bagagem
companhia exata de um princípio sem fim
sobrevoo o abismo
que há no centro de mim
retorno mais tarde
e a tarde furiosa e quente
beija a cidade muda
e queima tudo com sua saliva
suave e incandescente
suave e incandescente
estudo o espaço
e ensaio um golpe no ar escasso
sangrando e sem palavra
o coração na mão batuca, piano piano
um som qualquer, sem sentido nem graça
no oco do peito há um silêncio
e sem alarido
vejo cega que tudo está mantido
no devido lugar:
- inclusive eu
que pousei sem pousar
domingo, 27 de outubro de 2013
Viagem
dorme? não dorme
sonha acordado
dias cantados
tudo poesia
tudo absoluta
e encantada correria
dentro de si silencia
violão e guitarra
cavaco e pandeiro
destilado, deste lado
desespera um inverno inteiro
pela nova primavera
joga-se no abismo que pra si escava
perdido labirinto da palavra
e por fim se vê no bucho do pássaro
de feliz o sonho se transveste
se faceiro cruza o céu azul
rumo ao leste.
sonha acordado
dias cantados
tudo poesia
tudo absoluta
e encantada correria
dentro de si silencia
violão e guitarra
cavaco e pandeiro
destilado, deste lado
desespera um inverno inteiro
pela nova primavera
joga-se no abismo que pra si escava
perdido labirinto da palavra
e por fim se vê no bucho do pássaro
de feliz o sonho se transveste
se faceiro cruza o céu azul
rumo ao leste.
sábado, 26 de outubro de 2013
Da cegueira diante dos quadros
era uma luz
de um verde esparso
por sobre a cruz
duns braços abertos
sussurrando: Jesus...
uma planta
de pé
espelhada
espalhada
branca
como todo o resto
era cegueira
era o rosa
a rosa de uma língua
vento
orvalhando pétalas
jardim implantado
na fronteira
da pele
era mais mas não saberia
como fazer caber nos segundos
de um dia
e no entanto cabia
na palavra chuva
que absoluta se espalhava
partindo da boca
de quem parte ilhava:
tudo.
de um verde esparso
por sobre a cruz
duns braços abertos
sussurrando: Jesus...
uma planta
de pé
espelhada
espalhada
branca
como todo o resto
era cegueira
era o rosa
a rosa de uma língua
vento
orvalhando pétalas
jardim implantado
na fronteira
da pele
era mais mas não saberia
como fazer caber nos segundos
de um dia
e no entanto cabia
na palavra chuva
que absoluta se espalhava
partindo da boca
de quem parte ilhava:
tudo.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Hoje
Quando o feitiço da conversão do amanhã em hoje se declara, emudece-se a dor e tudo é repassado. Tudo paz, tudo passado.
o hoje
age, ruge
alicia.
o hoje
gera jeitos
e angustia.
o hoje
é joia, jogo
e apostaria
que hoje, o hoje
que surge singelo
mas ligeiro foge
nos sentencia:
o que hoje
começa,
como o hoje
ferve
e logo esfria.
o hoje
age, ruge
alicia.
o hoje
gera jeitos
e angustia.
o hoje
é joia, jogo
e apostaria
que hoje, o hoje
que surge singelo
mas ligeiro foge
nos sentencia:
o que hoje
começa,
como o hoje
ferve
e logo esfria.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
discurso de posse
palavras são lanças
soltas no vento
surpresas,
sussurros.
palavras suaves
açoitam
assediam
são laços que prendem
se sibilam sinceras
os silêncios que pendem
de antigas quimeras.
são desvio e são caminho
que me fazem limpa e sã.
minhas palavras
são sonhos e são passos
e se apossam
de tudo que abraço.
soltas no vento
surpresas,
sussurros.
palavras suaves
açoitam
assediam
são laços que prendem
se sibilam sinceras
os silêncios que pendem
de antigas quimeras.
são desvio e são caminho
que me fazem limpa e sã.
minhas palavras
são sonhos e são passos
e se apossam
de tudo que abraço.
domingo, 13 de outubro de 2013
historinha com final feliz para o dia das crionças
sorrateiro ele a espreita
lança-se de surpresa
e a leva consigo para o meio da pista
- que conquista!
dançam e entre volteios
ele ensaia um galanteio
e segreda-lhe ao ouvido
que a tem lido
e muito gostado.
ela pára para reparar melhor
e diz-lhe, como a ela convém
com suave espanto e desdém:
pois todo homem é cego...
para saber-me sem medo
para entender o segredo
é preciso mais que uma lida
mais que uma vida ou um baile:
decifra-me e devoro-te,
lê-me agora,
mas lê-me em braile!
sábado, 12 de outubro de 2013
O que a vida dá*
Presentes:
eu presente, tu presente.
Presentes.
Nós presentemente.
Apresentados.
( - Pressentes?
Presenteados!)
*Parceria com Ivan Lima
eu presente, tu presente.
Presentes.
Nós presentemente.
Apresentados.
( - Pressentes?
Presenteados!)
*Parceria com Ivan Lima
terça-feira, 8 de outubro de 2013
CHATEADO
cerveja na mão, senta e tecla
apaga
e tecla
e volta a apagar
em volta música, uma
e outra
e outra
excederam linhas
numa lavra louca
pouco contido
o palavreado
tudo em coração transformado
transtornado mundo
livre de horror e cinismo
sem mirar o fundo
saltaram no abismo
apaga
e tecla
e volta a apagar
em volta música, uma
e outra
e outra
excederam linhas
numa lavra louca
pouco contido
o palavreado
tudo em coração transformado
transtornado mundo
livre de horror e cinismo
sem mirar o fundo
saltaram no abismo
domingo, 6 de outubro de 2013
livre
ela esbarrou na porta
frente fria invadindo a sala
nucas arrepiadas
olhares vertendo estupefação
a reação provocara um surto
o ar revolto quase tocara o chão
nem percebera o tornado
que se formara
colheu o copo com água como um padre reza benção
não despejou sequer uma gota de interesse
e saiu em silêncio,
com a alma nua e o corpo são.
frente fria invadindo a sala
nucas arrepiadas
olhares vertendo estupefação
a reação provocara um surto
o ar revolto quase tocara o chão
nem percebera o tornado
que se formara
colheu o copo com água como um padre reza benção
não despejou sequer uma gota de interesse
e saiu em silêncio,
com a alma nua e o corpo são.
sábado, 5 de outubro de 2013
não
nem tudo tão fofo
há palavra brita atirada na pele
há palavra sal na mucosa
do olho
há palavra fel destilada na papila
nem tudo fofo
nem tudo doce
nem tudo de amor cintila
mas quando teus olhos
colhem com ternura meus amargos cristais
pouco me importa se a vida dói ou desfaz:
embrigada de vaidade
eu gozo
e quero mais!
nem tudo tão fofo
há palavra brita atirada na pele
há palavra sal na mucosa
do olho
há palavra fel destilada na papila
nem tudo fofo
nem tudo doce
nem tudo de amor cintila
mas quando teus olhos
colhem com ternura meus amargos cristais
pouco me importa se a vida dói ou desfaz:
embrigada de vaidade
eu gozo
e quero mais!